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Cuidado com os mergulhos de verão!

publicado em 23 Jun. 2021

Nesta era estranha, em que a nossa preciosa liberdade de viver a vida como a conhecíamos foi inesperadamente posta em causa, mais do que nunca a imagem de uma praia num dia de sol e céu azul, as águas convidativas de uma piscina, uma lagoa encaixada numa cascata, nos mil lugares onde a nossa ânsia de férias se pode concretizar, ganham um apelo mais irresistível.

 

A imagem da juventude, finalmente livre para momentos de felicidade, banhando-se em mergulhos de puro deleite, é demasiado desejada para continuar a ser reprimida.

 

Quantas vezes assistimos às acrobacias e cabriolas típicas de gente jovem em pleno usufruto do vigor de corpos jovens, rivalizando em estilo e ousados mergulhos?

 

Mas, cada vez que assisto a tão felizes momentos, um arrepio de apreensão atravessa as minhas memórias. Memórias de momentos que acabaram em aflição, de consequências vezes de mais trágicas para não deixarmos o aviso.

 

Uma piscina inesperadamente baixa, a agitação marítima a esconder um banco de areia, uma corrida e um vigoroso mergulho de cabeça mal calculados transportam a força de uma massa corporal que choca violentamente contra obstáculos imprevistos, transmitindo forças axiais ou em hiperextensão da coluna cervical, que excedem a resistência das estruturas anatómicas.

 

A rotura de um disco intervertebral com a formação de hérnia discal, a rotura dos complexos ligamentares estabilizadores da estrutura vertebral, a fratura do corpo vertebral, dos pedículos, das massas laterais, a luxação unilateral de facetas ou a terrível luxação bilateral são listas que o cirurgião de coluna conhece de cor, da experiência acumulada.

 

A estrutura neuronal que transmite as ordens do cérebro a todo o corpo, a famosa medula, ou as raízes que da cervical se espraiam pelos membros superiores, são protegidos pela coluna vertebral.

 

Uma energia concentrada de forma biomecânica infeliz num ponto-chave pode provocar danos irreparáveis.

 

Na maioria dos casos, a lesão em chicotada, a hérnia discal, as fraturas mais estáveis terão menores consequências, dando espaço a soluções de imobilização temporária, analgesia e fisioterapia como solução. Embora, mesmo assim, a dor crónica ou rigidez cervical possam ser incómodas heranças.

 

A correta e atempada atuação de nadadores-salvadores e equipas de emergência e o transporte para centros com especialistas em Cirurgia da Coluna podem, no limite, reverter mesmo situações mais graves.

 

Mas noutras, que nos marcaram de forma triste a memória, resultaram no aprisionamento de vidas jovens num corpo para sempre paralisado, em sonhos e ambições de futuros interrompidas pela imprevidência de um instante irrefletido.

 

Nunca é demais avisar, nunca é demais prevenir, sem fundamentalismos, mas tendo sempre estas imagens na cabeça: cuidado com os mergulhos de verão!