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Edema macular diabético e a importância de um tratamento agressivo

publicado em 27 Jan. 2022

A Retinopatia Diabética é a principal causa de cegueira evitável na população ativa no mundo ocidental. Em 2017, existiam em todo o Mundo 425 milhões de doentes com Diabetes, mas estima-se que esse número suba para 628 milhões em 2045. Segundo a edição de 2016 do Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes, estima-se que a prevalência da Diabetes na população portuguesa com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos (7,7 milhões de pessoas) seja de 13,3%, ou seja, mais de 1 milhão de portugueses. Número esse com tendência para aumentar, devido ao envelhecimento da nossa população.

 

A Retinopatia Diabética é uma doença vascular da retina (o tecido nervoso responsável pela nossa visão), resulta de um estado inflamatório crónico típico da Diabetes e é classificada em níveis de gravidade crescente: desde as formas mais ligeiras até às mais graves, com a presença de proliferação de vasos anómalos. Independentemente do nível da gravidade, qualquer estádio da Retinopatia Diabética pode ser complicado pela presença de Edema Macular Diabético (EMD): a principal causa de perda significativa da função visual entre a população diabética. A sua prevalência aumenta, contudo, com a gravidade da Retinopatia Diabética: 3% naqueles com retinopatia ligeira, 38% nos olhos com retinopatia moderada a grave e 71% nas formas proliferativas.

 

O EMD representa a acumulação de fluido no espaço extracelular da retina, levando a um aumento da espessura da mesma. A analogia pode ser feita com a presença de infiltrações, provenientes da canalização, numa parede. A acumulação, lenta e continuada, de água vai alterando a estrutura das camadas da parede até se tornar evidente, com o aumento da espessura e alterações externas. O processo na retina é algo semelhante, mas o resultado final é a perda de função das células retinianas e a diminuição, em menor ou maior grau, da função visual.

 

Atualmente, o tratamento do EMD faz-se com a injeção de fármacos no interior da cavidade vítrea do olho. Temos à nossa disposição vários tipos de fármacos, e de forma geral o principal objetivo passa pela inibição de fatores que estimulem a acumulação de fluido nos espaços extracelulares, conduzindo à redução deste, à reorganização das camadas da retina e à recuperação da visão. Ou seja, o tratamento visa não só parar a evolução da doença, mas também recuperar a função visual perdida, obtendo-se hoje em dia resultados muito satisfatórios.

 

Muitas vezes, mais importante do que o tipo de fármaco injetado é o número de injeções que se faz. O doente a quem é diagnosticado um EMD tem que estar preparado para a realização de vários destes tratamentos, principalmente durante o primeiro ano, uma vez que um maior número de injeções realizadas durante este período relaciona-se com um melhor prognóstico a longo prazo.

 

Assim, apesar de ser uma condição que ameaça a função visual do doente diabético, existem hoje em dia uma série de armas disponíveis para o tratamento do EMD, que, se utilizadas de forma repetida durante as fases iniciais da doença, permitem uma diminuição real do risco de perda de visão e uma manutenção importante da qualidade de vida.