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Hiperatividade no adulto

publicado em 02 Mar. 2022

Apesar da Perturbação da Hiperatividade/Défice de Atenção (PHDA) estar ainda fortemente associada à patologia pediátrica, ela não é exclusiva das crianças, podendo estar presente ao longo de todo o ciclo de vida, desde a infância à idade adulta, sendo que na infância as manifestações comportamentais são mais fáceis de identificar.

 

A PHDA é uma perturbação do Neurodesenvolvimento que tende a manifestar-se de diferentes formas na idade adulta, muitas vezes já à mistura com outras patologias do foro mental, o que dificulta o seu diagnóstico. Se pensarmos que esta problemática passa muitas vezes despercebida nas escolas, poderemos questionar qual será realmente a taxa de prevalência na população adulta. A PHDA em adultos também pode surgir sem histórico de sintomas na idade pediátrica.

 

Esta perturbação apresenta três caraterísticas principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade – elas têm consequências significativas no bem-estar emocional e qualidade de vida, afetando praticamente todas as áreas de funcionamento do indivíduo, nos vários contextos: académico e/ou profissional, social, psicológico e familiar. As investigações apontam para que tenha origem multifatorial, resultando da interação entre fatores genéticos/ hereditários, fatores neurobiológicos e ambientais/psicossociais. Pais diagnosticados com PHDA têm 50% de probabilidade de terem uma criança com a mesma doença. Cerca de 25% das crianças diagnosticadas com PHDA têm pais que preenchem critérios para o mesmo diagnóstico (DSM 5).

 

Os sinais são os mais diversos:

 

Dificuldade em terminar tarefas, organizar/planear, concentrar, memorizar; inquietação física/motora, baixa autoestima; fraca tolerância à frustração; instabilidade emocional nos relacionamentos (com maior risco de conflitos conjugais e separações); dificuldade na expressão de emoções; isolamento social; comportamento antissocial; acidentes de viação; comportamentos e pensamentos autolesivos e disruptivos, socialmente desadequados; maior risco de consumo de tabaco e drogas, abuso de álcool, dependências do jogo (online) e da internet; maior instabilidade nos empregos, etc.

 

As patologias que podem estar associadas em simultâneo são conhecidas: a perturbação do espetro do autismo, perturbação da ansiedade, perturbação depressiva, perturbação obsessiva compulsiva, perturbação de tiques, perturbação do sono, perturbação da personalidade.

 

A intervenção contempla várias especialidades: psicofarmacologia, psiquiatria, neurologia, psicologia clínica e a neuropsicologia.

 

Na intervenção não farmacológica da PHDA temos a psicoeducação, muito importante para desmistificar conceitos (“pessoa preguiçosa” e/ou “irresponsável”) e a terapia cognitivo-comportamental, o coaching, o exercício físico, podendo coexistir numa mesma intervenção.

 

A PHDA no adulto, em particular, é um problema emergente que surge como um grande desafio, tanto na área da investigação como nos modelos interventivos que mais bem poderão dar resposta eficaz no cuidado do bem-estar e melhoria significativa da qualidade de vida do doente, assumindo o próprio o papel de melhor interventor e responsável pelo seu autocuidado/autonomia. É de todo o interesse, individual e coletivo, que na presença de alguns sintomas e/ou dúvidas os casos possam ser direcionados para uma avaliação especializada.