Skip to main content

“Quem vê caras não vê corações…”

publicado em 07 Fev. 2019

O provérbio é antigo, mas mantém- se atual. Eu, enquanto cardiologista, pertenço a um grupo restrito de pessoas que consegue ver para além do rosto, o coração, através de uma diversidade de modalidades de imagem que espelham a inovação tecnológica que temos hoje em dia ao dispor, podendo, desta forma, revelar um problema escondido.

No século XXI, as doenças cardiovasculares permanecem a principal causa de morte em Portugal. Na liderança encontram-se doenças como a doença coronária, cuja primeira manifestação pode ser o enfarte agudo do miocárdio, não raras vezes fatal, e a insuficiência cardíaca que chega a alcançar uma taxa de mortalidade superior à de alguns cancros. Torna-se assim prioritário alertar a população e sensibilizar outros profissionais de saúde para o reconhecimento do quadro clínico e para estratégias que conduzam a um diagnóstico correto de problemas cardíacos.

Dor torácica, cansaço, dispneia, palpitações e edemas dos membros inferiores são sintomas e sinais comummente desvalorizados por centenas de pessoas que os confundem com situações não cardíacas como a ansiedade ou que insistem em atribuí-los ao processo de envelhecimento. No entanto, estes sintomas são indistinguíveis daqueles que sofrem verdadeiramente de um problema cardíaco, sendo fundamental que as pessoas reconheçam estas queixas e assumam uma condição mais ativa na procura de um especialista que proceda ao diagnóstico preciso e, no que diz respeito aos problemas do coração, o diagnóstico é, na maioria das vezes, simples e acessível passando pela realização de uma análise de sangue com biomarcadores específicos, um eletrocardiograma ou um ecocardiograma.

 

Durante um período variável de tempo, o coração tem a capacidade de ganhar força para bombear o sangue e vencer as agressões que lhe são impostas, atenuando os sintomas associados a um problema cardíaco, contudo, como um músculo que é, estes mecanismos compensatórios também se esgotam e o coração vai perdendo gradualmente a sua força para contrair. O desconhecimento desta história natural leva a um atraso no diagnóstico e, por conseguinte, na instituição de tratamentos dirigidos e eficazes, fazendo com que muitas pessoas nos cheguem já em fases tardias da doença, o que se associa inexoravelmente a um pior prognóstico. Assim, é crucial consciencializarmo-nos deste problema de saúde pública, fomentar o rastreio e a referenciação atempada dos doentes para uma equipa multidisciplinar de médicos especializados, Heart Team (equipa do coração), que dispõe de abordagens diagnósticas, técnicas de intervenção inovadoras e tratamentos farmacológicos com impacto na morbilidade e mortalidade associada a estas doenças.

 

O coração é o órgão, por excelência, associado à vida e aos sentimentos. Neste mundo da Cardiologia, que já conta com alguns anos, tenho tido o privilégio de testemunhar que nada mais se quebra, nada mais regenera nem nada mais ressuscita como o coração, por isso, cuide bem do seu!