Os tempos de incerteza associados à pandemia atual fizeram com que todos nós, em algum momento, sentíssemos dor no coração. Uma dor por cada abraço que não foi dado, por cada beijo que não foi sentido e pelo tempo que não foi passado a olhar o rosto daqueles que mais amamos.
Neste período de tormenta foram muitas as pessoas que perderam a vida e não apenas como resultado da infeção pelo COVID-19. Muita gente também perdeu a oportunidade de ouvir o coração e procurar assistência médica, quando deveriam.
Todos os anos milhares de portugueses morrem por doenças cardiovasculares, onde se inclui o enfarte agudo do miocárdio. Antecipa-se que a prevalência destas doenças aumente nos próximos anos a par dos múltiplos fatores de risco que estão na sua origem como a diabetes, colesterol elevado, hipertensão arterial, obesidade e o tabagismo, presentes cada vez mais cedo na vida de cada um.
O Dia do Coração é todos os dias
No dia 29 de setembro assinala-se o Dia Mundial do Coração, pelo que considero importante chamar a atenção para um problema de saúde que deixa marcas que o tempo não apaga: a Doença Coronária.
A angina de peito é a dor torácica que surge quando o coração se vê privado de nutrientes e oxigénio, fruto da obstrução de uma das artérias que o irriga (artérias coronárias) por uma placa de gordura. Esta dor localiza-se tipicamente no hemitórax esquerdo ou ao nível do esterno e pode irradiar para a mandíbula, costas, membros superiores ou epigastro. Enquadrada no enfarte agudo do miocárdio é prolongada, podendo apresentar-se isoladamente ou acompanhar-se de náuseas, vómitos, hipersudorese, palpitações ou falta de ar. A ausência de um diagnóstico e tratamento atempado pode resultar em insuficiência cardíaca ou morte.
O diagnóstico de enfarte agudo do miocárdio pode ser confirmado com recurso a eletrocardiograma, ecocardiograma, análises com marcadores específicos de lesão cardíaca (troponina), seguindo-se, muitas vezes, o cateterismo cardíaco que permite identificar e tratar a artéria obstruída fazendo chegar, de forma imediata, sangue ao miocárdio.
Não é demais relembrar que o coração é um músculo especial, por isso, a dor torácica deve ser sempre encarada com seriedade porque pode traduzir algo de relativa simplicidade, como medo, angústia e inquietação ou representar uma doença com risco de vida iminente, como o enfarte agudo do miocárdio. Acredito que ao aumentar o conhecimento e compreensão sobre os sinais de alarme neste cenário, estarei a possibilitar que os doentes reconheçam precocemente os seus sintomas e recorram aos cuidados de saúde para um diagnóstico e tratamento adequados, porque cada segundo conta!
Os tempos podem ser de mudança e de adaptação a uma nova realidade, mas há coisas que enquanto Cardiologista do Grupo Trofa Saúde farei igual, continuando a criar ligações de proximidade com as pessoas, onde lhes dou a mão e as prendo à vida. Porque a vida começa e termina com o bater do coração. Pare, escute e cuide bem do seu!