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Perda de olfato, obstrução nasal, dor de garganta: covid? Sim e não…

publicado em 19 Dez. 2020

A perda de olfato, obstrução nasal, dores de garganta e de cabeça têm sido sintomas muito em voga desde março, dada a sua aparente associação com infeção pelo novo coronavírus. De facto, são manifestações que devem merecer especial atenção e, dependendo do contexto (como caráter súbito da perda de olfato ou presença de febre), poderão justificar a prescrição do teste para deteção do Sars-CoV-2.

 

No entanto, não é só no espetro da COVID-19 que estas queixas se enquadram. O inverno e a primavera, devido às temperaturas baixas, no primeiro caso, e à presença mais acentuada dos agentes alérgicos no segundo, são duas estações que, tendencialmente, desencadeiam fenómenos de rinite e de sinusite.

 

Qual a diferença entre as duas?
A rinite consiste, basicamente, na inflamação do nariz (com especial incidência nos cornetos nasais), levando a obstrução. As infeções víricas (principalmente pelos vírus mais comuns, como adenovírus ou rinovírus) e as alergias podem levar a uma rinite aguda ou à agudização de uma rinite crónica. Já a sinusite, geralmente, é o resultado de uma rinite que persiste, excetuando situações como infeções dentárias, que podem acarretar sinusite sem rinite prévia. Sensação de peso nos olhos, pingo no nariz (ou na garganta) – espesso e viscoso – e dor de cabeça acentuada pelos movimentos do pescoço são sintomas possíveis. Também a perda de olfato é uma manifestação de sinusite. Com efeito, este depende da passagem do ar para as regiões superiores das fossas nasais, onde se situam as fibras do nervo olfativo.

 

A presença de secreções acumuladas ou alterações estruturais (como bolhas de ar dentro dos cornetos – conchas bolhosas) constituem obstáculos a essa passagem de ar. Convém realçar que não tratar convenientemente a sinusite poderá acarretar complicações graves como meningite, abcesso intracraniano, trombose do seio cavernoso (com eventual perda de visão) ou pneumonia (pela escorrência das secreções infetadas em direção à árvore brônquica). O tratamento, numa primeira fase, passará pela utilização de fármacos. Caso seja ineficaz ou na presença de um quadro crónico (que pode motivar a administração assídua de antibióticos), a cirurgia deverá ser uma opção a ter em conta, com a correção de fatores anatómicos que predisponham à sinusite (desvios do septo nasal, conchas bolhosas).

 

A dor de garganta, igualmente, é um dos motivos clássicos que levam os doentes ao Otorrinolaringologista. Pode refletir uma faringite (coexistente, muitas vezes, com uma rinite) ou uma amigdalite bacteriana. Esta última requer tratamento com antibiótico, sob pena de poder complicar, por exemplo, através da formação de abcessos cervicais ou parafaríngeos e consequente instalação de falta de ar ou invasão da veia jugular (com disseminação da infeção por todo o organismo).

 

Todos estes dados evidenciam que a consulta de Otorrinolaringologia, mesmo em contexto pandémico, é fundamental na orientação de casos clínicos extremamente comuns.