Quase todos os dias, um ou até mais doentes de uma consulta de Otorrinolaringologia refere que está tonto por causa dos “Cristais”, não sabendo de facto qual a origem e causa desta patologia. Em termos muito simples, o ouvido interno pode dividir-se em duas unidades: a Cóclea (parte da audição) e o Labirinto (equilíbrio), constituído pelos canais semicirculares, utrículo e sáculo.
Os canais semicirculares, o utrículo e o sáculo, têm uma zona sensorial que nos canais semicirculares sãs as Cristas e, no utrículo e sáculo, as Maculas, coberta por uma massa gelatinosa que têm no seu interior cristais de cálcio e por baixo feixes nervosos do nervo vestibular. Com os movimentos do corpo e da cabeça estas zonas deslocam-se sob a ação da gravidade e do movimento linear, ajudadas pelo peso relativo dos cristais, estimulando os feixes nervosos, colocados por baixo, que por seu turno enviam informação ao cérebro, determinando a posição e o movimento a todo o instante.
Em alguns casos, estes cristais saem do seu local habitual e flutuam no líquido labiríntico livremente dando origem à Vertigem, em determinadas posições. Esta vertigem, chamada Vertigem Posicional Paroxística Benigna – VPPB – pode ter várias causas, por exemplo trauma, infeção prévia do labirinto, degeneração das máculas (pela idade, por exemplo).
Seja qual for a causa o diagnóstico é clínico, ou seja, pelo exame físico e por chamadas provas de Dix e Hallpike, que determinam o aparecimento de um movimento ocular chamado Nistagmo (oscilações rítmicas e involuntárias de um ou ambos os olhos em uma ou mais direção do olhar).
O tratamento é realizado pelas manobras de desencarceramento (levar os cristais ao seu local), sendo as mais comummente usadas as Epley. Pode ser necessário mais do que uma sessão, dependendo do bem-estar e da resposta do doente.
A incidência é de 4 a 8% da população em geral, correspondendo a 1/5 dos casos de consulta Urgente de Otorrinolaringologia. A prevalência acima dos 65 anos pode atingir os 50% da população, atingindo o pico entre os 70 e 78 anos, verificando-se maior incidência no sexo feminino e na época de outono e primavera.
Apesar da sua benignidade, pode ser manifestação de outras patologias mais graves, pelo que é obrigatória a investigação clínica focando as perturbações do próprio ouvido, como de outras origens, circulatórias (por exemplo: Hipertensão), alterações sanguíneas (Anemia, Diabetes, Colesterol, etc.) e hormonais (Doença Tiroideia), alterações da coluna cervical, devendo paulatinamente ser eliminadas.
É necessário, portanto, o estudo da Audição (Audiometria) e do Equilíbrio (Videonistagmografia), e outros testes realizados de forma a obter um diagnóstico o mais correto possível, bem assim como a avaliação dos vários fatores de risco, eventualmente com Tomografias e Ressonância Magnética Nuclear, e quaisquer outras que o especialista entenda por necessárias.
Em conclusão, uma tão frequente perturbação, pode esconder perigos maiores e deverá sempre ser investigada com cuidado e atenção.