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A Doença dos Cristais

publicado em 24 Mar. 2022

Quase todos os dias, um ou até mais doentes de uma consulta de Otorrinolaringologia refere que está tonto por causa dos “Cristais”, não sabendo de facto qual a origem e causa desta patologia. Em termos muito simples, o ouvido interno pode dividir-se em duas unidades: a Cóclea (parte da audição) e o Labirinto (equilíbrio), constituído pelos canais semicirculares, utrículo e sáculo.

 

Os canais semicirculares, o utrículo e o sáculo, têm uma zona sensorial que nos canais semicirculares sãs as Cristas e, no utrículo e sáculo, as Maculas, coberta por uma massa gelatinosa que têm no seu interior cristais de cálcio e por baixo feixes nervosos do nervo vestibular. Com os movimentos do corpo e da cabeça estas zonas deslocam-se sob a ação da gravidade e do movimento linear, ajudadas pelo peso relativo dos cristais, estimulando os feixes nervosos, colocados por baixo, que por seu turno enviam informação ao cérebro, determinando a posição e o movimento a todo o instante.

 

Em alguns casos, estes cristais saem do seu local habitual e flutuam no líquido labiríntico livremente dando origem à Vertigem, em determinadas posições. Esta vertigem, chamada Vertigem Posicional Paroxística Benigna – VPPB – pode ter várias causas, por exemplo trauma, infeção prévia do labirintodegeneração das máculas (pela idade, por exemplo).

 

Seja qual for a causa o diagnóstico é clínico, ou seja, pelo exame físico e por chamadas provas de Dix e Hallpike, que determinam o aparecimento de um movimento ocular chamado Nistagmo (oscilações rítmicas e involuntárias de um ou ambos os olhos em uma ou mais direção do olhar).

 

O tratamento é realizado pelas manobras de desencarceramento (levar os cristais ao seu local), sendo as mais comummente usadas as EpleyPode ser necessário mais do que uma sessão, dependendo do bem-estar e da resposta do doente.

 

A incidência é de 4 a 8% da população em geral, correspondendo a 1/5 dos casos de consulta Urgente de Otorrinolaringologia. A prevalência acima dos 65 anos pode atingir os 50% da população, atingindo o pico entre os 70 e 78 anos, verificando-se maior incidência no sexo feminino e na época de outono e primavera.

 

Apesar da sua benignidade, pode ser manifestação de outras patologias mais graves, pelo que é obrigatória a investigação clínica focando as perturbações do próprio ouvido, como de outras origens, circulatórias (por exemplo: Hipertensão), alterações sanguíneas (Anemia, Diabetes, Colesterol, etc.) e hormonais (Doença Tiroideia), alterações da coluna cervical, devendo paulatinamente ser eliminadas.

É necessário, portanto, o estudo da Audição (Audiometria) e do Equilíbrio (Videonistagmografia), e outros testes realizados de forma a obter um diagnóstico o mais correto possível, bem assim como a avaliação dos vários fatores de risco, eventualmente com Tomografias e Ressonância Magnética Nuclear, e quaisquer outras que o especialista entenda por necessárias.

 

Em conclusão, uma tão frequente perturbação, pode esconder perigos maiores e deverá sempre ser investigada com cuidado e atenção.