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Afinal, é uma Doença Inflamatória Intestinal – podia ser pior!

publicado em 12 Mar. 2021

Muitas vezes, passados vários anos de sinais e sintomas peculiares, faz-se um diagnóstico de Doença Inflamatória Intestinal (DII). Esses sintomas “peculiares” nada parecem ter a ver com o tubo digestivo; dizem respeito a órgãos tão diversos como a pele, os olhos, as articulações e podem aparecer numa miríade de outras situações – são sintomas extradigestivos e inespecíficos de DII.

 

Porquê começar um texto que respeita a DII discutindo os seus sintomas menos típicos?
Para ilustrar dois aspetos: primeiro, tratam-se de doenças sistémicas que acabam por afetar o corpo de forma global, não devendo ser vistas como doenças meramente intestinais; segundo, manifestam-se de formas distintas, em doentes diferentes, e requerem um médico observador e conhecedor para suspeitar e estudar devidamente a situação.

 

Os sintomas digestivos, mais comuns, passam pela diarreia (por vezes sanguinolenta, por vezes com muco), dor de barriga, náuseas, vómitos e perda de apetite. Alguns doentes têm lesões anorretais atípicas noutros quadros. A perda de peso e a febre são sintomas gerais frequentes.

 

Acrescem à dificuldade em diagnosticar estas doenças alguns estereótipos antigos que se opõem à melhor orientação dos doentes. Os doentes com DII, sofridos, tendiam a ser exigentes, depressivos, queixosos e irritáveis. Os cirurgiões executavam, afoitos, operações cujos resultados, frequentemente dramáticos, viam como inevitabilidades da doença. Os gastrenterologistas insistiam, para além da eficácia e da tolerância, em tratamentos farmacológicos, adiando operações indicadas, com medo dos resultados cirúrgicos.

 

Felizmente, ainda que a um ritmo extremamente lento, os cirurgiões têm aprendido a intervir de forma diferente, muitas vezes mais cedo, embora genericamente menos. Aos gastrenterologistas têm regressado doentes bem nutridos, capazes de tolerar medicação. Os doentes têm sido diagnosticados e referenciados mais cedo, intervencionados com menos sequelas e andam de sorriso na cara.

 

Atualmente, ter uma DII não é necessariamente um drama. O conhecimento sobre as doenças assim designadas – de forma sintética, a Doença de Crohn e a Colite Ulcerosa – tem crescido vertiginosamente. Esse conhecimento está mais perto dos médicos que a elas se dedicam. Esses, conhecem a complexidade da sua doença, percebem-no a si e trabalham em equipa entre eles.

 

Se tem frequentemente os sintomas acima enumerados, se ainda não se queixou, se ainda não foi estudado ou se ainda não foi referenciado a um especialista, não aguarde pelo fim da pandemia – os diagnósticos alternativos podem, eles sim, ser dramáticos.