O coração é, por excelência, o lugar onde guardamos as emoções e estas podem deixar marcas irreparáveis em algumas pessoas. É nesta perspetiva que o nosso coração é muito mais que um músculo, é o órgão onde se imprime tudo o que sentimentos e pode, por vezes, sofrer tanto na tristeza como na alegria.
A síndrome do “coração partido” ou Takotsubo, foi pela primeira vez descrita no Japão em 1983 e designa um coração com aspeto de takostubo,
uma ferramenta usada pelos japoneses para capturar polvos, com fundo arredondado e pescoço estreito. Esta síndrome traduz os efeitos que as emoções podem ter no coração. Embora os mecanismos exatos através dos quais tal acontece não sejam totalmente compreendidos, o nexo de causalidade é, muitas vezes, inequívoco.
No entanto, o coração não sofre apenas com acontecimentos desagradáveis (discussão, luto, etc..) também pode, embora mais raramente, ser afetado pela felicidade.
A síndrome de Takostubo tem maior prevalência nas mulheres de meia-idade. Na maioria é possível identificar um fator precipitante emocional ou físico (como uma doença). A apresentação é variável e mimetiza outras doenças do coração: dor torácica (semelhante ao enfarte agudo do miocárdio), falta de ar, cansaço (como a insuficiência cardíaca), palpitações e mesmo arritmias (algumas potencialmente fatais).
O diagnóstico pode ser um desafio e não recai num único exame complementar, mas assenta numa história clínica detalhada com recurso a alguns exames como o eletrocardiograma, o ecocardiograma e análises com marcadores específicos do coração. Dispomos ainda do InterTAK score, um score de risco que estima a probabilidade de síndrome de Takostubo e aponta na direção deste diagnóstico.
A gestão desta patologia depende da sua forma de apresentação, sendo o tratamento sobretudo de suporte. O prognóstico é, na sua globalidade, bom e a maioria das alterações analíticas, eletrocardiográficas e estruturais do coração voltam, dentro de dias ou semanas, ao seu estado basal. Contudo, é importante o reconhecimento desta entidade porque durante este período é crucial uma vigilância apertada e o rastreio de complicações cardiovasculares.
Numa altura de grande mudança, após a pandemia covid-19, com a atual guerra na Europa e com a crise económico-financeira que se avizinha é difícil, se não mesmo impossível, não sentir nada. Em resultado destas expressões de dor o coração pode sofrer de forma aguda. Neste sentido,
é importante sensibilizar todos, mas principalmente aqueles sob stress, a procurarem ajuda.
Os médicos têm demonstrado, ao longo do tempo, algo mais do que resiliência, têm mostrado coragem, perseverança e, apesar do mundo não ser igual, nós temos permanecido uma constante ao serviço das pessoas que diariamente nos procuram. Por isso, bate, bate coração…e aguenta a
emoção!