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Doença do Refluxo Gastroesofágico: em defesa do guardião-mor do esófago!

publicado em 26 Nov. 2021

Designa-se por Refluxo Gastroesofágico o retorno espontâneo do conteúdo do estômago para o esófago. Ocorre de forma fisiológica: um indivíduo pode apresentar 50 episódios de refluxo gastroesofágico ao longo do dia, sem qualquer sintoma, e isso ser considerado normal. Porém, quando origina sintomas crónicos e/ou lesão orgânica, designamos Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE).

 

Na sua forma clássica, a DRGE pode associar-se a maior ou menor grau de inflamação esofágica, sendo os sintomas típicos a azia, ardência no peito, regurgitação e dor ao engolir. Outras vezes manifesta-se por sintomas extra-esofágicos, tais como: rouquidão, tosse, erosão dentária e dor de ouvidos. Os vómitos, a saciedade precoce, a perda de peso e a alteração das caraterísticas das fezes são sintomas de alarme que nos devem sugerir outro diagnóstico ou uma forma grave da doença com complicações associadas.

 

Quando procuramos um culpado para a DRGE, o esfíncter esofágico inferior (EII) é o suspeito habitual. É-lhe atribuída a responsabilidade de guardião-mor do esófago, restringindo a exposição à acidez gástrica e favorecendo a passagem dos alimentos. No entanto, os mecanismos de contenção do refluxo gastroesofágico são complexos e diversos, pelo que a sua falência é, habitualmente, multifatorial. Pode dever-se a alterações anatómicas e funcionais na junção esófago-gástrica (nas quais incluímos a incompetência do EEI) ou a defeitos na depuração esofágica, na resistência do epitélio, na motilidade gástrica e até mesmo a nível da perceção dos sintomas.

 

Desta forma, o diagnóstico e a melhor orientação terapêutica requerem um médico com experiência na área. Em muitos casos, poderá ser suficiente introduzir algumas mudanças na dieta e nas rotinas diárias, bem como manter um peso adequado. Noutros poderá ser necessário alterar a medicação habitual ou introduzir novos fármacos.

 

Quer isto dizer que cumprindo as medidas gerais e dietéticas e eventualmente farmacológicas conseguimos controlar a DRGE? Pelo menos é possível obter uma melhoria significativa! Só que muitos doentes não podem ou não querem manter a dieta e os fármacos ad aeternum. Outras vezes não se consegue a resolução completa dos sintomas ou a cicatrização das lesões, apesar da otimização e escrupuloso cumprimento do tratamento médico. Nestes casos, e sobretudo quando há um defeito anatómico associado (como uma hérnia do hiato), poderá estar indicado o tratamento cirúrgico.

 

A técnica cirúrgica mais habitual designa-se fundoplicatura de Nissen. É realizada por via laparoscópica, causa pouca dor no pós-operatório, implica estadias curtas no hospital e um rápido regresso às atividades da vida diária. É uma técnica que visa reforçar o EEI e restituir-lhe a sua posição. Enquanto cirurgião dedicado à patologia esófago-gastroduodenal, compete-me ajudar o guardião-mor do esófago a re-abraçar a sua missão.