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Síndrome de Asperger em crianças: atual ou em desuso?

publicado em 18 Fev. 2021

O termo Síndrome de Asperger era previamente utilizado na prática clínica, na tentativa de caraterizar indivíduos, particularmente crianças e adolescentes, que manifestavam dificuldades na interação com crianças da mesma idade e que apresentavam comportamentos ou interesses pouco habituais, excêntricos, rígidos e/ou repetitivos.

 

Esta síndrome foi introduzida após descrições efetuadas pelo médico austríaco Hans Asperger, nos anos 40, de crianças que exibiam sintomas e comportamentos compatíveis com um diagnóstico de autismo, mas com um nível de inteligência na média ou acima da média e um desenvolvimento da fala e da linguagem próximo do considerado normal. Entre alguns dos aspetos salientados, destacavam-se:

 

  • Uma dificuldade marcada no contacto afetivo (emocional) com outras pessoas;
  • Insistência rígida em rotinas ou na não-mudança;
  • Peculiaridades no tom, nos conteúdos ou na forma como falam;
  • Fascínio com a manipulação de determinados objetos;
  • Boa capacidade de organização visual e espacial e de memorização de conhecimento em determinadas áreas, a par de dificuldades significativas de aprendizagem noutras, bem como uma aparência inteligente e que chamava à atenção.

 

Hoje em dia, apesar de identificarmos crianças com caraterísticas similares nas consultas de pedopsiquiatria, o diagnóstico de Síndrome de Asperger caiu em desuso. Com a progressão do conhecimento científico e com a revisão dos critérios de diagnóstico, foi considerado que os indivíduos com estas caraterísticas seriam melhor e mais facilmente identificados como apresentando uma Perturbação do Espetro do Autismo. A decisão de combinar estas categorias reflete, portanto, a diversidade de apresentações e facetas, bem como os graus de severidade e de impacto que o Autismo pode condicionar.

 

Os crescentes esforços para criar maior consistência e rigor na caraterização destes indivíduos têm como objetivo permitir o avanço das investigações sobre as causas, tratamento e prevenção dos impactos negativos das Perturbações do Espetro do Autismo.

 

O Trofa Saúde dispõe no seu corpo clínico de médicos especialistas em psiquiatria da infância e da adolescência (pedopsiquiatria). Estes possuem formação e experiência clínica na avaliação e orientação de crianças com suspeita de um diagnóstico de Perturbação do Espetro do Autismo e podem trabalhar, desde logo, em conjunto com as famílias, de modo a desenhar um programa de tratamento apropriado e individualizado, consoante as caraterísticas, competências e o ritmo de desenvolvimento de cada criança. Crianças e adolescentes com as caraterísticas mencionadas beneficiam de uma combinação de intervenções que podem envolver psicoterapia, terapia da fala, terapia ocupacional, ensino especial e suporte familiar, as quais devem ser acompanhadas e supervisionadas por um médico pedopsiquiatra. Algumas destas crianças poderão beneficiar de tratamento com medicação para controlo de sintomas problemáticos.

 

A evolução das crianças com Perturbação do Espetro do Autismo está relacionada com o seu nível intelectual, capacidade de comunicação e linguagem e com a presença de uma intervenção precoce, regular e efetiva. Crianças com nível intelectual e linguagem normativos frequentemente têm um percurso académico que pode ser regular e chegar inclusive ao ensino universitário.

 

Apesar de as dificuldades na interação e compreensão social persistirem ao longo da vida, é frequente que indivíduos com este diagnóstico consigam atingir sucesso em contextos de trabalho específicos e que estabeleçam relações estáveis e duradouras com família e amigos.

 

Daí que o acesso atempado a aconselhamento especializado, suporte e tratamentos seja essencial para aumentar a probabilidade de uma evolução positiva.