Ia já no final do meu dia quando um senhor de 66 anos deu entrada no Serviço de Urgência com dor abdominal intensa de aparecimento súbito. Quando o observei estava pálido e a suar, tinha o abdómen distendido e os sinais vitais apresentavam alterações preocupantes. Na palpação abdominal notava-se uma massa pulsátil na região do umbigo. Apesar de não ter história familiar de aneurisma da aorta, o resultado da tomografia computorizada não tardaria – tratava-se de um aneurisma da aorta abdominal (AAA) em rutura.
A reparação cirúrgica emergente é a única hipótese de corrigir um aneurisma da aorta abdominal em rutura, antes que a hemorragia seja catastrófica e fatal. Apenas um em cada quatro doentes sobrevive a este diagnóstico, 36% dos doentes perdem a vida ainda antes da chegada ao hospital e dos que chegam ao hospital e são submetidos a reparação, a taxa de sobrevivência varia de 36% a 52%.
Quando lidamos com uma reparação de aneurismas não rotos, os resultados são mais favoráveis, com taxas de mortalidade inferiores a 5%. Os aneurismas da aorta abdominal com diâmetro igual ou superior a 5,5 cm em homens ou 5 cm em mulheres devem ser corrigidos cirurgicamente.
O aneurisma da aorta abdominal é quase sempre silencioso até ao momento em que entra em rutura. Contudo, pode ser identificado através de uma simples ecografia abdominal de rastreio. Nesse exame é possível medir o diâmetro transverso máximo da aorta abdominal. O diagnóstico de aneurisma da aorta abdominal está presente se este diâmetro for igual ou superior a 3 cm.
As orientações europeias recomendam a realização deste exame a todos os homens com mais de 65 anos, pelo menos uma vez na vida. Para homens e mulheres com um familiar de primeiro grau com aneurisma da aorta abdominal, o rastreio deve ser feito a partir dos 50 anos e a cada 10 anos. Os doentes com aneurismas noutras localizações do organismo também devem fazer rastreio a cada 5-10 anos.
Estima-se que, em Portugal, 2,1% dos homens com mais de 65 ano possa ter um aneurisma da aorta abdominal, sendo a prevalência em mulheres 4 vezes menor. Os fatores de risco incluem a idade, hipertensão, aterosclerose e história familiar de aneurisma da aorta abdominal.
Não existe até à data nenhuma medicação que impeça a progressão do aneurisma da aorta abdominal, mas a cessão tabágica e a adoção de um estilo de vida saudável reduzem a sua taxa de crescimento e o risco de rutura. Quando identificado atempadamente, a reparação do aneurisma da aorta abdominal pode ser planeada e realizada em melhores condições do que durante uma situação de emergência.
Apesar de não dar sintomas o aneurisma da aorta abdominal pode ser detetado precocemente. Aconselhe-se com o seu médico assistente!