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Diabetes Mellitus: a epidemia do século XXI

publicado em 31 Jan. 2020

Diabetes Mellitus (DM) é um problema de saúde global em ascensão, intimamente ligado à epidemia da obesidade e das doenças cardiovasculares. Refere-se a uma doença crónica caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar (glicose) no sangue, e a sua prevalência aumenta muito com a idade, atingindo ambos os sexos e todas as idades.

 

Em 2015, a prevalência estimada da DM na população portuguesa com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos (7,7 milhões de indivíduos) foi de 13,3%, isto é, mais de 1 milhão de portugueses neste grupo etário apresentava diabetes.

 

Trata-se de uma doença multifatorial complexa e heterogénea em que fatores genéticos interagem com fatores ambientais, promovendo o desenvolvimento da resistência à insulina e aumento da glicemia. A resistência à insulina e a secreção diminuída de insulina continuam a ser os principais defeitos na diabetes, mas existem outras anormalidades fisiopatológicas que contribuem para a desregulação do metabolismo da glicose.

 

Existem vários tipos de DM, sendo a Diabetes tipo 2 a mais prevalente e associada ao síndrome metabólico e hereditariedade. É uma doença silenciosa, sem sintomas ou sinais que nos alertem nas fases iniciais para a presença da doença, sendo o diagnóstico muitas das vezes efetuado devido a manifestações de complicações ou acidentalmente através de resultados alterados dos valores de glicose no sangue ou na urina.

 

As pessoas com DM têm alto risco de complicações microvasculares e macrovasculares como a neuropatia e amputação, retinopatia, nefropatia ou doença cerebrovascular, para além das complicações menos reconhecidas, mas não menos importantes, como a insuficiência cardíaca, esteatohepatite não alcoólica, a doença periodontal e a demência.

 

A prevenção com o rastreio da DM nos grupos de risco continua a ser um dos pilares fundamentais no controlo da epidemia da doença e respetivas complicações.

 

O maior progresso no conhecimento dos múltiplos distúrbios patogenéticos presentes na diabetes permitiram avanços na investigação e na descoberta de fármacos que, para além do controlo da glicemia, permitem redução de outros fatores de risco vasculares, como controlo da pressão arterial, melhoria do perfil lipídico, diminuição da mortalidade cardiovascular, diminuição da hospitalização por insuficiência cardíaca ou até mesmo diminuição da progressão da doença renal.

 

Porém, e apesar do progresso, continua sem existir nenhum fármaco ideal capaz de modificar a história natural da doença e de cobrir todos os defeitos fisiopatológicos, pelo que a maioria dos doentes necessitam muito mais do que exercício físico e dieta equilibrada – combinação de fármacos para um bom controlo da glicemia a longo prazo. Para além disso, sabe-se da prática clínica que os doentes diabéticos são todos diferentes, não respondem de forma igualmente eficaz aos vários fármacos, reforçando a necessidade de acompanhamento multidisciplinar para controlar a doença e evitar a progressão da mesma.

 

Acredita-se que num futuro próximo o maior conhecimento do fenótipo do doente diabético, fisiopatologia da doença e farmacogenómica, se consiga aprimorar o tratamento da mesma.

 

Bibliografia
Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes – Edição de 2016 DeFronzo RA, Ferrannini e, Groop L, Henry RR, Herman WH, Holst JJ, et al. Type 2 diabetes mellitus. Nat Ver Dis Primers. 2015; 1. Art. No.:15019 Gorgojo Martínez JJ¿Demasiados medicamentos para tratar la diabetes? ¿Hacia dónde vamos? Posicionamiento a favor de múltiples fármacos antidiabéticos. Diabetes Práctica. 2017; 08(02): 50-57