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Burnout em tempos de pandemia

publicado em 16 Nov. 2020

Com as exigências do mundo atual, o trabalho a partir de casa (do inglês work from home), dito de outro modo, trabalho remoto ou teletrabalho, parece ter vindo para ficar! Além de diminuir a sensação de stress associada ao trabalho, quer através da redução de tempo de mobilidade (tempo no trânsito e transportes públicos), oferta de maior flexibilidade de horários, aumento do conforto, apresenta uma oportunidade para menores gastos financeiros e para aquisição de hábitos de vida saudável, como uma alimentação mais cuidada. De facto, parece-nos lógico que traga uma maior produtividade laboral e sensação de bem-estar geral. Um estudo recente mostrou que 60% dos trabalhadores preferem trabalhar a partir de casa.

 

Apesar disso, o trabalho remoto pode vir sob a forma de rebuçado envenenado, sendo que na realidade contribui fortemente para a diminuição dos níveis de socialização, podendo levar à solidão. Também a dificuldade ou impossibilidade de desconectar pode acarretar desestruturação da vida do próprio e da sua família, já que os limites entre horário de trabalho e período pós-laboral ficam claramente indefinidos, estando, inclusivamente, associados a mais horas laborais.

 

O burnout é tido como uma síndrome que resulta de stress crónico no local de trabalho, e é já descrita na 10ª versão da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde. De facto, nunca se tornou tão necessário falar sobre burnout ou esgotamento profissional, não só pelo risco orgânico evidente, podendo acarretar hipertensão arterial, obesidade e diminuição da imunidade, mas sobretudo pelos sintomas psíquicos que lhe são característicos: sensação de exaustão ou alta de energia, redução da eficácia profissional, ansiedade e declínio cognitivo. Além destes sintomas, esta condição é frequentemente acompanhada por insónia, alterações do apetite e, em casos mais graves, pensamentos suicidas. Habitualmente, este quadro clínico é englobado nas perturbações depressivas major pelo que o seu diagnóstico deverá ser efetuado por um psiquiatra. O tratamento deverá ser farmacológico, numa primeira fase, e passará por antidepressivos e ansiolíticos. A psicoterapia também é amplamente aconselhada com vista à identificação e modificação de padrões cognitivos e comportamentais disfuncionais. Tal como noutras perturbações mentais, a prática desportiva e aquisição de hábitos de vida saudáveis são importantes e partes integrantes do tratamento.

 

Torna-se, também, fundamental a prevenção do burnout associado ao teletrabalho. O estabelecimento de limites surge como pedra angular: limites do trabalhador no que diz respeito ao horário de trabalho, entrada e saída e até delimitação de espaços físicos de trabalho, pausa e refeição. Nunca foi tão importante manter rotinas, até mesmo para aqueles que estão em casa sem trabalhar. As rotinas são como metas diárias, que aumentam os nossos níveis de satisfação e sensação de dever cumprido quando realizadas, podendo funcionar como verdadeiros limites entre nós e os outros, protegendo o tempo de cada um.

 

Ficam, por fim, algumas ideias simples. Que tal acordar para mais um dia com o despertador a tocar, vestir-se a rigor, caminhar uns minutos, ouvir o programa da manhã da rádio ou o podcast preferido e só depois começar o seu trabalho? Alimente-se bem, longe do computador e saia a horas. E não se esqueça de silenciar as notificações relacionadas com o trabalho no período pós-laboral, colocando também mensagens pré-definidas a avisar que o escritório está encerrado!

 

Penso que muito mais haveria a refletir sobre este assunto e acabo por sentir que ficou tanto por dizer… pelo que apenas termino, alertando para o facto de que será fundamental que as chefias se readaptem e reeduquem de forma a manter a produtividade dos seus trabalhadores sem ultrapassar os seus limites pessoais e laborais. Infelizmente, as problemáticas de assédio moral e bullying são cada vez mais frequentes, pelo que devem obter mais atenção a nível governamental e jurídico.