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O papel do psicólogo na doença oncológica

publicado em 26 Nov. 2020

O cancro é, provavelmente, a patologia mais temida no mundo moderno. Carateriza-se por um crescimento anómalo de células que produzem tumores, chamadas neoplasias. O cancro leva o doente a estados exaustivos de luta, acompanhados de sentimentos ansiosos, stressantes e depressivos.

 

A Psico-oncologia tem um papel fundamental na medida em que aborda os aspetos psicossociais que envolvem o doente com cancro. Os problemas emocionais e o sofrimento psicossocial são comuns quando os indivíduos se confrontam com uma doença oncológica, considerando também que associam a doença à morte e, muitas vezes, essa crença é irracional e distorcida, o que leva à diminuição da autoestima, perda de motivação para continuar a lutar e pensamentos negativos.

 

A Psicoterapia tem um impacto poderoso ao nível das estratégias para lidar com a situação (ajustamento à doença e ao tratamento). Promoção de comportamentos e atitudes que permitam lidar de forma mais eficaz com a doença. Pode ajudar a alcançar objetivos, nomeadamente, tomar consciência dos próprios sentimentos, emoções, medos sobre a doença, tratamentos e acerca do futuro; diminuir níveis de depressão, ansiedade e desenvolver competências para lidar com o stress; desenvolver o sentimento de otimismo e de que tem poder sobre a doença (espírito de luta); adquirir a sensação de controlo e de autoeficácia; desenvolver competências de comunicação e assertividade para as poder usar com a família, amigos e profissionais de saúde; adquirir informação sobre a doença e esclarecer dúvidas sem medos, entre outros.

 

De uma forma sucinta a doença oncológica passa por três estádios. Primeiro, passa pela intervenção psicoterapêutica que deve ser feita através da integração das experiências passadas, partilhando os sentimentos/emoções que estão presentes. O ponto fulcral da intervenção após diagnóstico inicial passa pelo incentivo de falar livremente sobre a sua situação. O facto de o doente oncológico falar de forma livre sobre as suas preocupações e crenças alivia a tensão, levando à melhoria do seu bem-estar. O impacto do diagnóstico, pautado por bastante stress e depressão, torna crucial fornecer suporte através da escuta, transmitindo empatia e mostrar que não está sozinho.

 

O segundo estádio é a aceitação do diagnóstico. É importante explicar as caraterísticas da doença, o processo e duração do tratamento, os efeitos secundários, bem como a importância da adesão. Outro objetivo é promover o aumento da qualidade de vida do doente, através da aquisição de hábitos de vida saudáveis, e construir uma lista com as prioridades e objetivos de vida a realizar a curto e médio prazo, dando especial importância aos momentos de lazer e prazer. A intervenção deve passar ainda pelos efeitos secundários do tratamento, onde se deve ajudar a preparar o doente para o caso de ter queda de cabelo, por exemplo. A intervenção na dor deve ser realizada através da implementação de técnicas de modelagem, treino de respiração e estratégias de relaxamento, treino imagético, hipnose e o placebo. Deve ser explicado ao doente que a sua doença também tem impacto na sua família e que este é um fenómeno natural. O incentivo de combate ao isolamento deve estar presente, permitindo e promovendo dinâmica e envolvimento familiar.

 

No terceiro e último estádio (período do tratamento) é importante fomentar a manutenção de uma vida com qualidade, respeitando as recomendações dos profissionais de saúde. Sendo que a intervenção não se limita só ao doente, devendo sempre que possível alargar-se à família e amigos, pois quando há um diagnóstico de cancro, estes são igualmente abalados e, por vezes, demonstram grandes dificuldades em lidar com o próprio doente.

 

O papel do psicólogo no doente oncológico, apesar de ser ainda uma área com alguma carência, poderá intervir a vários níveis, seja no pré-diagnóstico, diagnóstico, pré e pós-tratamento e morte.

 

Referências:

 

  • M. R. Dias & E. Durá(Eds.), Territórios da Psicologia Oncológica (pp. 381-398). Lisboa: Climepsi Editores. https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1031.pdf
  • Ogden, J. (2004). Psicologia da Saúde. Lisboa: Climepsi Editores Pereira, M. G. & Lopes, C. (2005). O doente oncológico e a sua família. Lisboa: CLIMEPSI EDITORES Santos, E. M. (2005). Estudo bibliográfico sobre o histórico da Psico-Oncologia. Revista Científica Electrónicade Psicologia.
  • Walsh, F. & McGoldrick, M. (1998). Morte na Família: Sobrevivendo às Perdas.Porto Alegre: ARTMED.
  • Worden, J. W. (1998). Terapia do Luto. Porto Alegre: Artes Médicas. Matos, P & Pereira,G. (2005). Psicoterapia com doentes oncológicos e seus familiares.
  • In Pereira & Lopes (Eds.). O doente oncológico e a sua família (2ª ed.), pp. 27-48. Lisboa: Climepsi Editores. Organização Mundial de Saúde – OMS. (2002).
  • National cancer control programmes: policies and managerial guidelines. Geneva (2ª ed.).