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Olho vermelho: distinguir entre diferentes causas

publicado em 27 Mar. 2019

Existe uma multiplicidade de causas para a apresentação de olho vermelho, com diferentes implicações clínicas e diferente gravidade. Processos infeciosos, alérgicos, inflamatórios, relacionados com traumatismos e hemorragias, partilham o desenvolvimento de um aspeto macroscópico de olho vermelho e, partilham por vezes também, alguns dos sintomas referidos pelos doentes, pelo que a sua distinção raras vezes é fácil sem uma avaliação clínica e um exame oftalmológico cuidado.

 

De um modo geral, a existência concomitante de dor ocular, de uma diminuição mantida da acuidade visual em simultâneo e, mais ainda, de ambas, fazem elevar a suspeita para diagnósticos com maior potencial de gravidade, com necessidade de tratamento atempado. Pelo contrário, a inexistência de dor nem de compromisso da acuidade visual representa habitualmente quadros mais benignos.

 

A suspeita diagnóstica mais usual no contexto de olho vermelho talvez seja a conjuntivite infeciosa. Dentro desta, a existência de secreção purulenta abundante fará pensar numa etiogia bacteriana, ao passo que uma secreção mais escassa, mais mucosa, colocará maior suspeita de etiogia vírica. A conjuntivite pode ainda estar associada a fenómenos alérgicos oculares, habitualmente em doentes com história prévia de alergia e que manifestam comichão como sintoma primordial. Todos estes quadros costumam evoluir favoravelmente sob tratamento adequado, embora o espectro de gravidade possa ser bastante diverso.

 

Processos infeciosos que envolvam a córnea (úlceras ou abcessos) caracterizam-se por dor mais intensa e frequentemente diminuição marcada da visão. O porte de lentes de contacto, sobretudo com pouco cuidado, representa o fator de risco principal para estas ocorrências. Sem um tratamento precoce e agressivo, a dificuldade na resolução da infeção e o risco de sequelas aumentam consideravelmente.

 

Uma causa muito habitual e benigna de olho vermelho é a formação de uma hemorragia subconjuntival. O aspeto vermelho em toalha, em lugar de se verificar um ingurgitamento dos vasos sanguíneos da conjuntiva, de aparecimento súbito e sem quaisquer sintomas associados é característico. Estas hemorragias decorrem geralmente de pequenos traumatismos, por vezes mal percebidos pelo doente, ou de picos de tensão arterial, e não necessitam nem justificam qualquer tratamento.

 

Diversos fenómenos inflamatórios podem envolver a superfície ocular externa, ou, tendo uma localização intraocular, levar ao desenvolvimento acessório de olho vermelho também. Não raras vezes estão associados a doenças sistémicas autoimunes ou infeciosas de várias naturezas. Quase sempre os doentes referem dor, diminuição da acuidade visual e uma sensibilidade acrescida à luz. No âmbito destes quadros (epiesclerites, esclerites, uveites) a avaliação clínica e o diagnóstico apurado podem conduzir a abordagens terapêuticas específicas, com necessidade frequente de serem prolongadas no tempo.

 

A ocorrência de um traumatismo ocular, não apenas mecânico, mas também químico ou físico, faz-se apresentar quase sempre com olho vermelho. Naturalmente que o tipo e a gravidade do traumatismo sucedido podem supor estratégias de tratamento e gerar prognósticos muito distintos.

 

Pela diversidade de causas potenciais envolvidas, a apresentação de olho vermelho é um motivo muito habitual de recurso à urgência e à consulta de Oftalmologia. Caso haja diminuição da acuidade visual e dor intensa, a observação clínica deve ser especialmente atempada no sentido de se estabelecer um diagnóstico e um tratamento adequado no melhor momento.