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Psicologia na Endometriose

publicado em 08 Abr. 2023

A Endometriose é uma patologia que acarreta imenso sofrimento a vários níveis. O sofrimento psicológico, ainda que menos “visível”, tem um impacto enorme na vida destas mulheres, na vida destes casais, na vida destas famílias que, diariamente têm de lidar com esta doença – Endometriose – e vêm diminuída a sua qualidade de vida.

 

Por ser uma doença do foro feminino é, muitas vezes, silenciada pelas mesmas. É, entendida como íntima, pessoal e sem compreensão por parte de terceiros.

 

O apoio psicológico, passa muito por isto: por validar a doença, a dor crónica e lacerante, pela compreensão das questões sociais envolvidas, pelas relações familiares/amizades em rutura, pelas relações conjugais constantemente colocadas à prova e, não menos importante, pela possível perda de sonhos como, o sonho de ser mãe – ter um filho(a)!

 

Em consulta, ouço e procuro ouvir com atenção todas as questões que chegam. A Endometriose, é só o primeiro motivo. Esta doença, engloba uma diversidade imensa de procura de resoluções e justificações.

 

A procura pelo diagnóstico, é um dos momentos, em que as mulheres apresentam maiores níveis de ansiedade e depressão. Infelizmente, na maioria dos casos, desde o início das consultas, até ao diagnóstico de Endometriose, estamos a falar de vários anos: vários exames, especialidades e diagnósticos diferentes. Estamos a falar de vidas em suspenso e com dor – dor contínua e incapacitante. Uma dor capaz de impedir a manutenção de um emprego. Uma dor que não permite uma vida social ativa, uma “normalidade”.

 

Muitas vezes, é realizada intervenção psicológica em crise. Só depois, após estabilização emocional, um acompanhamento, direcionado e especializado. Cada caso, é um caso. E, esta doença crónica, requer um entendimento especial.

 

A cirurgia (quando necessária) e pós-operatório serão, talvez, o segundo momento de crise.  Nesta fase, o acompanhamento emocional e gestão de ansiedade e stress são cruciais. A adaptação a uma nova fragilidade física e emocional requerem muita calma e dedicação. Lidar com possíveis sequelas físicas não é, de todo, fácil.

 

Voltar a sonhar com o papel da Maternidade, é o terceiro momento que encontro. A tentativa de gravidez é, ainda, o momento de descoberta desta doença. Portanto, os casais, vêm-se na necessidade de colocar este projeto de parentalidade “em espera”. Retomar agora este sonho representa, por vezes, o primeiro encontro com a palavra (In)Fertilidade. Ter endometriose não significa, necessariamente, infertilidade. Mas, remete, muitas vezes, para a necessidade de recorrer a ajuda médica para engravidar (PMA).

 

Aqui, a ansiedade e a sensação de falta de controlo são as palavras de ordem! Intervir neste momento significa acompanhar as vivências desta experiência, destes tratamentos exigentes, quer a nível físico como emocional. Significa gerir expectativas e o possível luto de um bebé imaginário e de uma família que já o é, sem o ser – ainda!

 

Por tudo isto, não podemos silenciar esta dor… não devemos continuar a potenciar o estigma de não se falar sobre a doença… não podemos compactuar com este sofrimento silencioso.

 

Acima de tudo, devemos potenciar a ideia nas atuais e futuras gerações que: ter dor menstrual não é normal!

 

Procurem ajuda especializada. Acredito num acompanhamento em equipa: genecologia, nutrição, fisioterapia e, claro, psicologia. Nesta doença é muito importante ter uma perspetiva de um todo – de uma vida – e não só da doença, enquanto caso clínico.