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Atleta de alta competição: superação psicológica

publicado em 23 Mar. 2022

Casos como a da atleta Simone Biles, que se retirou das competições olímpicas alegando motivos do foro psicológico, ou da triatleta Vanessa Fernandes, que sofreu de bulimia e de depressão no decorrer das exigências dos seus treinos, levam-nos a repensar a importância da saúde mental no desempenho de um atleta de alta competição.

 

Temos a consciência de que os atletas de alta competição alcançam o sucesso desportivo com recurso a um treino intensivo, um conjunto de técnicas adequadas e preparação física; no entanto, muitas vezes descuramos a importância da componente psicológica no desempenho desportivo.

 

Os atletas enfrentam um conjunto de dificuldades, como os treinos intensos e excessivos, pressão para obterem resultados positivos, acumulação de competições, reduzido tempo de recuperação, níveis elevados de ansiedade e alterações do humor. Para além destes fatores, os atletas, muitos deles com idades muito jovens, veem a sua adolescência comprometida, com hábitos e rotinas muito diferentes das dos seus colegas.

 

A intervenção psicológica, para além do objetivo final, que é potenciar o rendimento do atleta, procura que este adquira prazer nos treinos e na competição, contribuindo para que adquira ferramentas para ultrapassar os obstáculos e dificuldades apresentados pela competição ao mais alto nível.

 

Caraterísticas como disciplina, perseverança, confiança, motivação e coragem não são habilidades inatas ao alcance de apenas alguns privilegiados, mas são trabalhadas e potenciadas com treino psicológico. Este treino psicológico tem como principais objetivos desenvolver a motivação, a atenção, a autoconfiança, as competências cognitivas, emocionais e sociais, permitir maior autorregulação emocional durante a competição e possibilitar uma recuperação mais rápida após os treinos. Otimiza a comunicação interpessoal, melhora o funcionamento do grupo e os processos de liderança, assim como o equilíbrio emocional individual.

 

Deste modo, os atletas devem aprender a reconhecer e a modificar pensamentos negativos, desenvolver competências de relaxamento, programar objetivos a curto e longo prazo, utilizar técnicas de imaginação, de controlo da atenção e técnicas de autoinstrução. Devem trabalhar estratégias de aceitação de períodos de maior ansiedade como parte integrante da alta competição, assim como de introspeção após a prova, tentando superar obstáculos e erros cometidos, sem julgamentos castradores e impeditivos de superação em competições futuras.

 

Concluímos, assim, que os estados de humor e caraterísticas psicológicas do atleta condicionam os seus resultados desportivos. Apenas um atleta com um funcionamento psicológico adequado poderá obter o seu melhor desempenho.