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Engravidar após cirurgia bariátrica: é possível?

publicado em 06 Nov. 2023

De uma forma geral a obesidade está associada a um intervalo de tempo mais longo para se atingir uma gravidez.

 

A obesidade é atualmente considerada uma doença grave, crónica e progressiva cuja prevalência tem vindo a aumentar a nível mundial. Esta patologia condiciona um aumento das taxas de mortalidade e de outros riscos para saúde como as doenças cardiovasculares e respiratórias. A fertilidade também pode ser afetada negativamente. Sabemos também que a obesidade está associada a um vasto conjunto de complicações na gravidez, nomeadamente: diabetes gestacional, macrossomia fetal (bebés grandes e com excesso de peso), parto pré-termo, parto por cesariana, abortamentos e morte fetal.

 

O desenvolvimento de estratégias para a redução do peso é essencial para prevenir, tratar ou reverter as complicações associadas à epidemia da obesidade e melhorar globalmente a qualidade de vida. A adoção de um estilo de vida saudável é sempre a primeira linha e um compromisso a longo prazo. Contudo, existem outros tipos de tratamento que podem ser considerados caso a caso. A cirurgia bariátrica é um deles e tem-se tornado uma opção cada vez mais comum e eficaz no processo de perda de peso sustentável.

 

Mais de 80% dos procedimentos bariátricos são realizados em mulheres e aproximadamente metade deles são realizados em mulheres em idade reprodutiva. Quando existe o desejo de engravidar, deve ser ponderado o impacto da cirurgia bariátrica na gravidez contra os riscos da obesidade não tratada na gravidez.

 

Relativamente à fertilidade, a perda de peso pós cirúrgica otimiza o ambiente hormonal da mulher o que leva a melhorar as taxas de ovulação e consequentemente de gravidez. Com um correto planeamento e uma vigilância adequada após a cirurgia bariátrica muitas mulheres têm gestações sem complicações e bebés saudáveis, especialmente se atingirem um índice de massa corporal normal.

 

Algumas questões que frequentemente são colocadas no que diz respeito à saúde da mulher após cirurgia bariátrica são:

Existem riscos para o bebé na gravidez após cirurgia bariátrica?

Desde que exista um acompanhamento adequado, a gravidez após cirurgia bariátrica é segura e a maioria decorre sem complicações. Existe uma redução do risco de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e macrossomia fetal quando comparado com mulheres obesas que não foram submetidas a um procedimento bariátrico. Por outro lado, existem alguns estudos que referem um aumento do risco de diminuição do crescimento fetal devido aos défices de absorção provocados pela cirurgia.

É importante ser avaliada por um Obstetra antes de engravidar?

A realização de uma consulta de aconselhamento pré-concecional para o planeamento da gravidez está recomendada em todas as mulheres que se submeteram a cirurgia bariátrica. Nesta consulta são abordados temas como a suplementação de micronutrientes e o intervalo de tempo deste a cirurgia até à gravidez. Para além da Obstetrícia outras especialidades como a Nutrição, a Endocrinologia e se necessário, a Cirurgia devem estar presentes no acompanhamento da grávida.

Que cuidados devo ter relativamente à suplementação durante a preconceção e na gravidez?

Independentemente do plano reprodutivo, todos os doentes submetidos a cirurgia bariátrica, pelas alterações anatómicas e da capacidade de absorção impostas pelo procedimento, devem tomar suplementos para o resto da vida. Os períodos da preconceção e da gravidez não são exceção, são alturas de maior exigência nutricional e, por isso, os regimes de suplementação devem ser ajustados para cada grávida.

Quanto tempo devo esperar desde a cirurgia até engravidar?

Está recomendado aguardar entre 12 a 24 meses após a cirurgia até engravidar. Desta forma é possível otimizar as deficiências nutricionais abruptas que acontecem após a cirurgia e evitar possíveis complicações associadas.

Que tipos de métodos contracetivos devo optar após a cirurgia bariátrica?

Após a cirurgia bariátrica tipicamente os níveis de fertilidade melhoram. Não existindo uma contraceção adequada, uma gravidez indesejada ou não planeada pode acontecer. É necessário conhecer os antecedentes pessoais da doente e qual o procedimento cirúrgico realizado porque, em certos casos, podem não estar aconselhados métodos contracetivos hormonais ou métodos tomados por via oral, como as pílulas comuns, pela perda de eficácia devido à alteração da absorção.