Com ponto de partida numas glândulas profundas e de gargalo estreito distribuídas radialmente pelo perímetro do ânus, as supurações perianais são infeções produtoras de pus que se podem manifestar na forma de abcesso (cavidade de pus) na forma aguda e/ou de fístula (túnel escavado) na forma crónica. Esta é a sua causa mais comum – criptogénica – isto é: com origem nas criptas, as tais glândulas anais. Existem muitas outras causas que são também muito menos comuns, embora algumas delas cada vez mais comuns.
As supurações perianais são frequentes na população geral. Consomem consultas; levam os doentes à urgência e ao bloco operatório. Causam dor, drenagem de pus, incómodo, prurido; limitam o conforto diário das pessoas; implicam cuidados e alteração de rotinas; ameaçam, na sua progressão e para efeitos de resolução cirúrgica, a sensibilidade e a tonicidade do ânus – as capacidades de sentir e conter os gases e as fezes. Reside aqui o cerne da questão: deixar andar uma clínica pouco florida pode permitir a progressão de abcessos e a ramificação de fístulas, por um lado não travando a ação destrutiva da própria infeção sobre o corpo, por outro lado não impedindo que a sua anatomia se torne mais complexa, implicando a sua posterior resolução maior risco de dano às estruturas do períneo.
Na Doença de Crohn, doença inflamatória intestinal em crescimento em Portugal, o atingimento do períneo, com fístulas e abcessos, é frequente. Pode ser, até, a primeira e única forma de manifestação da patologia. Aqui, as supurações perianais distinguem-se, desde logo, na sua causa, podendo a anatomia das fístulas, e também dos abcessos, diferir das que comummente resultam da obstrução e infeção das criptas. O que resulta daqui é que o tratamento deve também ser diferente.
Na abordagem da supuração perianal nem sempre as implicações da doença inflamatória são tidas em conta – o diagnóstico pode não ser suspeitado ou, sendo conhecido, o seu significado pode ser subestimado. Ser afoito porque a fístula só atravessa pele e gordura, esquecendo que o comportamento cicatricial dos tecidos inflamados é defeituoso, ou porque a fístula é “simples”, esquecendo que ao longo da vida poderão surgir múltiplas outras, pode custar caro ao doente jovem, candidato a tratamentos farmacológicos modernos, cuja eficácia crescente poderia ter poupado tamanha agressividade.
Comichão, humidade, dor e rasto na roupa interior tiram-lhe qualidade de vida e comprometem o seu futuro. O Cirurgião Colorretal dedicado fará por ser agressivo com a infeção e delicado com os seus tecidos. Não deixe para amanhã o que pode começar a tratar hoje.
