“É uma fase, vai passar.” Quem nunca ouviu esta famosa frase, na procura de uma ajuda milagrosa, quando se tem nos braços um bebé que chora desesperadamente.
As cólicas infantis são um dos distúrbios mais comuns nos primeiros meses de vida, podendo afetar entre 10 a 40% dos bebés. Não existe uma definição standard para o termo “cólica”, mas intuitivamente refere-se a um bebé que chora excessivamente, sem razão aparente, muitas vezes acompanhado de outros sinais como rubor facial, flexão dos punhos, extensão dos membros inferiores, dor e distensão abdominal. Em termos clínicos geralmente utilizam-se os critérios de Wessel, a chamada “regra dos 3”, considerando um bebé saudável e bem nutrido: episódios de choro que no total duram ≥3 horas por dia, ocorrem ≥3 dias por semana e persiste por ≥3 semanas.
Apesar de várias décadas de investigação, a etiologia das cólicas infantis permanece desconhecida, mas pensa-se que seja multifatorial, incluindo:
- fatores gastrointestinais (imaturidade, desequilíbrio do microbioma, dificuldades na alimentação, dismotilidade);
- fatores biológicos (exposição materna a nicotina, imaturidade dos mecanismos de regulação motora);
- fatores psicológicos (temperamento do bebé, hipersensibilidade do bebé aos estímulos, ansiedade parental).
O diagnóstico da cólica infantil implica a exclusão de outras possíveis causas, daí a importância de uma avaliação cuidada e detalhada por profissionais de saúde habilitados, nomeadamente pelo pediatra. Um dos maiores desafios é que o choro faz parte de um amplo espetro de sintomas de várias condições relativamente frequentes em idade pediátrica, como é o caso do refluxo gastroesofágico, alergia às proteínas do leite de vaca, entre outras. Contudo, menos de 5% dos bebés com “choro excessivo” terão alguma doença orgânica subjacente.
A cólica infantil é uma condição benigna e autolimitada, que tende a resolver-se com o tempo, mas está muitas vezes associada a frustração parental, depressão pós-parto, procura excessiva de cuidados de saúde e até mesmo síndrome do “Shaken Baby”. Assim, é importante pensarmos em estratégias que ajudem as famílias a viver os primeiros meses de vida de forma mais serena e harmoniosa.
A abordagem da cólica infantil nem sempre é fácil pois muitas das recomendações carecem de evidência científica bem documentada, por falta de estudos adequados ou resultados inconsistentes, contudo, caso não tragam risco acrescido, na minha opinião é válido e importante tentar dotar as famílias de ferramentas que as ajudem a conectar e a entender o seu bebé, diminuindo o choro, atenuando o cansaço e fortalecendo a relação bebé-família.
A abordagem do bebé com “choro excessivo” deve ser individualizada, tendo em conta a história clínica, exame físico e características da família. Existem várias intervenções possíveis, desde a correção dos problemas e técnicas de alimentação/amamentação, até medidas de intervenção calmantes para o bebé como por exemplo: uso de chupeta, embalo, diminuição da exposição a estímulos excessivos, contacto pele-a-pele, babywearing, banho relaxante e “white noise”. Além destas, existe ainda um conjunto de outras intervenções que podem e devem ser consideradas caso a caso, pesando os riscos-benefícios: intervenções dietéticas (leites especiais para lactentes ou alterações da dieta da mãe); probióticos; simeticone; lactase/leites sem lactose; chás; homeopatia e terapias manuais. Neste grupo insere-se também a massagem infantil, cujos benefícios têm sido demonstrados por vários estudos no que respeita à diminuição dos períodos de choro associados às cólicas, alívio da dor e até no aumento ponderal, sem associação a efeitos adversos relevantes. Além disso, está provado que reduz a ansiedade/stress parental e promove uma ligação mais forte com o bebé, o que pode ser atribuído ao aumento dos níveis de oxitocina, hormona que é libertada como resultado do contacto físico, tanto nos pais como no bebé.
Assim, é verdade que é uma fase e vai passar! Mas até lá podemos tentar fazer com que seja mais leve e bem menos angustiante, se procurarmos a ajuda certa.