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Tenho uma Calcificação no Ombro

publicado em 21 Mar. 2019

A Tendinopatia Calcificante da Coifa dos Rotadores é uma causa comum de dor no ombro, correspondendo a cerca de 10% dos doentes que recorrem a uma consulta especializada de patologia do ombro.

 

Todos os tendões da coifa dos rotadores podem ser afetados mas o supraespinhoso é o tendão mais frequentemente envolvido nesta doença.

 

Afeta maioritariamente mulheres, entre os 40 e os 60 anos, e em 25% dos casos pode ser bilateral. A causa desta doença é desconhecida, mas pode estar associada a alguns distúrbios endócrinos (como o hipotiroidismo), hipertensão arterial e doença cardíaca isquémica.

 

A Tendinopatia Calcificante é uma doença habitualmente autolimitada no tempo e que evolui por fases que têm uma duração altamente variável. A fase de formação de depósitos de cristais de cálcio (1ª fase), habitualmente decorre sem queixas ou apenas com um ligeiro desconforto local. A fase de reabsorção da calcificação (2ª fase) é o estádio em que a dor é mais intensa, devido à libertação local de várias substâncias inflamatórias.

 

A DOR é a queixa principal, podendo ser violenta e de difícil controlo farmacológico.

 

Podem surgir outras queixas associadas, que diminuem drasticamente a qualidade de vida, como a dificuldade em dormir, a intolerância a estar deitado na cama e a falta de força no braço. A diminuição da mobilidade do ombro deve-se ao conflito subacromial causado pelo aumento de espessura do tendão, resultante do processo de reabsorção da calcificação intratendinosa. Esta redução da mobilidade pode evoluir progressivamente para uma rigidez articular do ombro, um estado de capsulite adesiva, vulgarmente conhecido como “ombro congelado”.

 

Um exame físico realizado pelo especialista do ombro e apoiado por meios complementares de diagnóstico adequados é fundamental para o estabelecimento do diagnóstico e posteriormente de uma correta estratégia terapêutica.

 

A radiografia do ombro é o primeiro exame a ser realizado e, habitualmente, permite identificar, localizar e caracterizar os depósitos de cálcio. A ecografia é o método mais eficaz de diagnóstico e funciona como auxiliar em algumas técnicas terapêuticas. A Ressonância Magnética é utilizada para o despiste de lesões concomitantes como a rotura dos tendões da coifa.

 

O tratamento conservador deve ser explorado inicialmente com uma estratégia para controlo da dor com a toma de medicação analgésica (ex.: anti-inflamatórios). Quando a dor é muito intensa, uma infiltração local de corticoide pode ser administrada e ajudar de forma significativa a diminuir a dor. Posteriormente, um programa de Reabilitação Física especificamente dirigido a esta patologia, e executado por um técnico especializado em patologia do ombro, pode ajudar na recuperação do doente.

 

Em casos selecionados, refratários à terapêutica conservadora convencional, pode estar indicada a realização de sessões de ultrassons/ondas de choque ou barbotage (técnica guiada por ecografia, que consiste na fragmentação e aspiração das calcificações com agulhas seguida de lavagem com soro fisiológico).

 

Quando o tratamento conservador falha, o tratamento cirúrgico está indicado. Atualmente os cirurgiões do ombro utilizam uma técnica minimamente invasiva (artroscopia) que é realizada através de pequenas incisões na pele que permitem a introdução de uma minicâmara de vídeo e instrumentos cirúrgicos específicos e delicados. A artroscopia do ombro permite a remoção da calcificação, a reparação da rotura dos tendões da coifa dos rotadores e o tratamento de outras lesões associadas (quando presentes).