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Apneia Obstrutiva do Sono: uma doença comum com graves implicações na saúde dos portugueses

publicado em 25 Jan. 2019

A Apneia Obstrutiva do Sono é caracterizada por episódios repetidos de obstrução e colapso das vias aéreas durante o sono, ao nível da garganta, resultando em paragens respiratórias. É considerada um problema de saúde pública, pela sua alta prevalência (cerca de 10% da população adulta), implicações em termos de qualidade de vida e consequências  cardiovasculares. (1) Em Portugal, os estudos apontam para um elevado número de casos não diagnosticados.

 

Os sintomas mais frequentes incluem o ressonar, episódios de engasgamento/ sufocamento durante o sono, pausas respiratórias descritas pelo(a) parceiro(a), sonolência diurna acentuada, nictúria (urinar frequentemente durante a noite), dificuldade de concentração, irritabilidade, fadiga, perda de memória e, até, dores de cabeça pela manhã. A sonolência diurna acentuada pode constituir-se num importante risco de saúde, nomeadamente quando associada à condução de veículos. Com efeito, um estudo recente publicado na revista “Sleep” mostrou que os doentes com apneia do sono têm um risco aumentado de 2,5 vezes de sofrer acidentes de viação. (2) No entanto, a correlação entre o grau de sonolência e a gravidade da apneia do sono é fraca, podendo o doente não sentir qualquer tipo de sonolência e, ainda assim, ter uma apneia do sono grave. A disfunção sexual é outra das complicações frequente, com diminuição da líbido e disfunção erétil. Também a insónia pode estar presente, sobretudo, nas mulheres com apneia do sono, bem como a depressão, descrita em até 21% dos doentes.(3-4)

 

Quando ocorre a apneia do sono, verifica-se a diminuição do fluxo de ar nas vias respiratórias, o que ocasiona uma queda súbita dos níveis de oxigénio no sangue. Quando estas quedas da oxigenação se repetem ao longo da noite, o risco de eventos cardiovasculares aumenta. De facto, a apneia do sono aumenta, de forma significativa, o risco de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, tais como a hipertensão arterial, o enfarte agudo do miocárdio, as arritmias, a insuficiência cardíaca e o acidente vascular cerebral (“AVC”). Para o diagnóstico da apneia do sono, o exame de referência é a polissonografia noturna. Este estudo do sono, realizado durante uma noite, em ambiente clínico ou em casa do doente, avalia, de entre outros, os seguintes parâmetros: a respiração, a atividade elétrica cerebral, a oxigenação do sangue e a frequência cardíaca. Também se realizam estudos sem avaliação da atividade cerebral (estudos cardiorrespiratórios), os quais, em alguns doentes, poderão mostrar-se suficientes para o diagnóstico.

 

O tratamento irá depender da gravidade da doença. Sendo a obesidade o fator de risco mais importante no seu desenvolvimento, a perda de peso apresenta-se essencial. O tratamento mais frequente consiste, contudo, na aplicação de uma pressão positiva (“CPAP”) nas vias respiratórias, impedindo o seu colapso, a qual é aplicada, na maioria dos casos, com auxílio de uma máscara nasal. Este tratamento apresenta-se o mais eficaz, não só no controlo dos sintomas, mas também na redução do risco cardiovascular. É, ainda, importante referir que existem casos de apneia obstrutiva do sono que surgem apenas quando o doente dorme de barriga para cima.

 

Nestes casos, poderá ser usado um dispositivo eletrónico que emite uma vibração quando o doente se encontra assim deitado, induzindo-o a uma mudança de posição (prevenindo a apneia). Por último, alguns casos com menor gravidade poderão ser tratados com o uso de um dispositivo de avanço mandibular que, ao permitir um avanço ligeiro da mandíbula, impede o colapso das vias aéreas.

 

Fontes:
(1) Pepp ard PE, Young T, Barnet JH, Palta M, Hagen EW, Hla KM. Increased prevalenceof sleep-disordered breathing in adults American journal of epidemiology. 2013;177(9):1006-14.
(2) Karimi M, Hedner J, Häbel H, Nerman O, Grote L. A Sleep Apnea-Related Risk of Motor Vehicle Accidents is Reduced by Continuous Positive Airway Pressure: Swedish Traffic Accident Registry Data. Sleep. 2015.
(3) Sateia MJ. Update on sleep and psychiatric disorders. Chest 2009;135(5):1370–9.
(4) Pepp ard PE, Szklo-Coxe M, et al. Longitudinal association of sleep-related breathing disorder and depression. Arch Intern Med 2006;166(16):1709-15.