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Como é que a doença da tiroide pode afetar os seus olhos?

publicado em 29 Dez. 2020

A Doença Ocular Tiroideia, também conhecida como Orbitopatia Tiroideia, é uma doença autoimune, na qual existe uma resposta inflamatória anómala direcionada para os tecidos que envolvem o olho, nomeadamente músculos e gordura, associada a disfunção tiroideia. Surge mais frequentemente em doentes com Hipertiroidismo, mas também pode ocorrer em doentes com Hipotiroidismo ou sem alterações aparentes da função da tiroide. É a manifestação extra-tiroideia mais comum da Doença de Graves.

 

Dentro dos fatores de risco para o seu desenvolvimento, salienta-se o tabagismo (ativo e passivo), que aumenta também o risco de progressão da doença, e diminui a eficácia do tratamento.

 

Esta doença tem, classicamente, uma fase ativa e uma fase não-ativa. Durante a fase ativa (que pode durar entre 4 meses e vários anos), há um processo inflamatório marcado a nível da órbita. As manifestações clínicas nesta fase variam entre um simples olho vermelho doloroso, até uma mais grave (e incomum) disfunção do nervo ótico, que pode resultar em perda de função visual prolongada. Também são relativamente comuns: o desenvolvimento da exoftalmia característica (protusão anormal do globo ocular), retração palpebral (que dá a aparência de “olhar espantado”) e mesmo visão dupla. Durante a fase não-ativa, o componente inflamatório foi controlado, e as manifestações clínicas advêm das alterações estruturais sequelares da atividade prévia.

 

Nesta fase destacam-se, então, a exoftalmia, a retração palpebral, e o estrabismo e visão dupla. Além de estes problemas poderem alterar a função visual, também tem um impacto importante a nível estético e, por isso, podem afetar de forma drástica o bem-estar.

 

O tratamento da Orbitopatia Tiroideia é complexo e tem vindo a sofrer modificações ao longo dos anos. De forma geral, rege-se pelo objetivo fundamental de reduzir a duração da fase ativa, de forma a reduzir as sequelas estruturais e funcionais da fase não-ativa e, dessa forma, minimizar a gravidade da doença e otimizar a qualidade de vida do doente. Assim, consoante a gravidade e atividade da doença, o tratamento varia entre medidas de suporte, como lubrificação e suplementação com minerais, até uma imunossupressão mais agressiva.

 

Apesar de os corticoides serem uma excelente e ainda corretamente utilizada arma terapêutica, nem sempre os seus efeitos adversos são tolerados, e dessa forma tratamentos emergentes com anticorpos monoclonais atuam em fases críticas da fisiopatologia da doença. Estes fármacos permitem um controlo mais preciso e duradouro, otimizando o controlo inflamatório e fisiopatológico da doença.

 

Após o controlo da fase ativa, resta-nos controlar as suas sequelas funcionais e estéticas. Novamente, o tratamento é doseado consoante as manifestações, e incluem descompressão orbitária cirúrgica no tratamento da exoftalmia; cirurgia de estrabismo na visão dupla; e cirurgia de pálpebras para a retração palpebral.

 

Apesar de clinicamente complexa, a Orbitopatia Tiroideia tem um excelente prognóstico funcional e estético. Salienta-se a importância do reconhecimento dos sinais de atividade, de forma a permitir uma intervenção terapêutica atempada e personalizada, possibilitando uma remissão rápida, com danos sequelares limitados e uma menor necessidade de intervenções cirúrgicas a longo prazo.