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Otorrinolaringologia pediátrica: patologia muito frequente

publicado em 10 Dez. 2020

“A criança não é um adulto em miniatura” é uma das máximas da Pediatria e, por extensão, da Otorrinolaringologia Pediátrica. A fisiologia auditiva e respiratória de uma criança é diferente da do adulto, daí que as causas de perda auditiva e de infeções de repetição sejam distintas.

 

A otite média crónica com efusão (OME) – o líquido nos ouvidos – é a doença mais comum na infância. A sua presença pode justificar perda auditiva e consequente alteração no desenvolvimento da fala e da linguagem. Não são raros os casos de crianças que têm várias sessões Terapia da Fala sem evolução positiva e que, na realidade, necessitam de tratar o quadro de OME que apresentam. O líquido nos ouvidos é responsável também por otites de repetição. Estas últimas podem levar ao uso excessivo de antibióticos em idades precoces, com a resultante perda de eficácia em infeções futuras. Convém não esquecer que uma otite pode explicar um quadro de febre e irritação na criança. Se não for devidamente tratada, pode originar complicações como paralisia facial e meningite.

 

A miringotomia com colocação de tubo de ventilação é, por isso, a cirurgia mais frequentemente realizada na infância. Esta intervenção consiste na realização de uma pequena abertura no tímpano e na colocação de um tubo microscópico, para drenar o líquido acumulado e, desta forma, evitar otites de repetição e melhorar a audição. É o próprio organismo que vai fazer a cicatrização do tímpano e expulsar o tubo, num processo que, em média, demora a 6 a 18 meses.

 

Quase os casos de OME são coincidentes com hipertrofia das adenoides. Estas são glândulas que existem na nasofaringe (parte de trás do nariz) e o seu crescimento excessivo dificulta o arejamento dos canais que ligam o nariz aos ouvidos (trompas de Eustáquio), além de diminuir a oxigenação sanguínea durante o sono. Assim, ressonar, dormir de boca aberta, dores de cabeça matinais e sonolência diurna são sintomas que podem acompanhar quadros de otites de repetição. As adenoides atingem o pico do seu tamanho entre os 3 e os 7 anos e a sua remoção cirúrgica (adenoidectomia), nas situações em que se justifica, é fundamental para permitir um crescimento e uma aprendizagem normais.

 

As amigdalites também são muito comuns neste grupo etário. Estudos recentes mostram que a presença de amígdalas que sofram infeções recorrentes não só não contribui para a capacidade de resposta imunitária do organismo, como ainda a pode prejudicar. Portanto, com o argumento adicional (tal como nas otites) de se poder “poupar” a utilização de antibióticos, a remoção das amígdalas é o tratamento indicado nas amigdalites de repetição. Esta cirurgia é, igualmente, fulcral (associada à adenoidectomia) quando a hipertrofia das amígdalas contribui para que a criança ressone ou durma de boca aberta.

 

Quanto mais cedo se intervier, menos antibióticos vão ser utilizados, mais cedo se conseguirá que a criança desenvolva uma fala desejável e, no caso das cirurgias, menos doloroso tenderá a ser o pós-operatório.