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Gaguez: o que é e fatores de risco

publicado em 10 Jan. 2024

Antigamente, pensava-se que a gaguez podia estar relacionada com questões emocionais. Atualmente, após vários estudos na área, de uma perspetiva biológica, sabemos que a gaguez é uma Perturbação do Neurodesenvolvimento caracterizada pelo desenvolvimento atípico das redes de planeamento e execução motora da fala. Esta tem por base uma multiplicidade de fatores, sendo que apresenta 2/3 de carga genética (alteração de genes específicos) e 1/3 de fatores ambientais, existindo uma elevada relevância hereditária.

 

A gaguez traduz-se numa perturbação da fluência que surge tipicamente durante o desenvolvimento, em idade pré-escolar (pode iniciar por volta dos 18 meses). Afeta cerca de 5% da população mundial infantil.

Mas o que é a gaguez?

É uma interrupção temporal entre a intenção de comunicar e a parte motora da fala. Sendo composta por comportamentos primários (bloqueios, prolongamentos e/ou repetições de fonemas, sílabas e/ou palavras monossilábicas no discurso) e, por vezes, por comportamentos secundários de evitamento (p.ex. circunlóquios, troca de palavras, pausas não apropriadas ao discurso) e/ou de fuga (p.ex. tensão muscular, fechar os olhos, virar/elevar a cabeça), todos os comportamentos observáveis aquando do momento de gaguez.

 

Nos finais do século XX a gaguez foi designada como sendo multifatorial, uma vez que o ambiente, a parte motora da fala e a vertente emocional, cognitiva e comportamental estão em constante relação entre si, podendo refletir num aumento ou diminuição da severidade da mesma.

Fatores de risco para a persistência da gaguez

Existem alguns fatores de risco para a persistência da gaguez, nomeadamente:

  • hereditariedade – crianças com familiares com gaguez persistente apresentam maior risco de persistência da mesma;
  • género – crianças do género masculino apresentam maior risco;
  • idade – quanto mais tarde o inicio da gaguez, após os 35 meses, maior a probabilidade de se tornar persistente;
  • tempo – a maioria das crianças pode recuperar no 1º ano desde o início da gaguez, quanto mais tempo a criança gaguejar maior a probabilidade de se tornar persistente;
  • presença de comorbilidades com outras perturbações – crianças com perturbação dos sons da fala e/ou linguagem têm maior risco de persistência, bem como com a presença de outros diagnósticos dentro das perturbações do neurodesenvolvimento;
  • temperamento – crianças mais reativas e/ou com dificuldades de autorregulação podem estar em maior risco de desenvolver reações à sua gaguez e menor resiliência para lidar com a mesma.

 

Há uma probabilidade de 75% de recuperação espontânea se o início da gaguez e a intervenção ocorrer antes dos 3 anos de idade. A intervenção deverá ser o mais cedo possível, pois, devido à neuroplasticidade cerebral existe uma grande probabilidade de haver remissão da gaguez. Caso se torne persistente, esta intervenção apoia-se em estratégias para tornar a comunicação da criança mais leve, sem receio nem tensões associadas para que a criança se sinta feliz e confiante da sua comunicação.