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QUERATOCONE: como se manifesta e possíveis tratamentos

publicado em 20 Jun. 2019

 

O Queratocone é uma doença deformativa da córnea, não inflamatória, com potencial para comprometer significativamente a acuidade visual. Afeta sensivelmente 1 a cada 2000 pessoas, e surge de um modo geral, entre os 15 e os 20 anos de idade, porém quase sempre de uma forma insidiosa e clinicamente subtil; envolve igualmente ambos os sexos e todos os grupos étnicos. A apresentação é virtualmente sempre bilateral, mas por vezes bastante assimétrica entre ambos os olhos.

A etiologia desta patologia não está intimamente esclarecida, mas existe um vínculo genético importante e fatores bioquímicos e físicos identificados, nomeadamente o traumatismo mecânico repetido pela ação de coçar os olhos, sobretudo em doentes com atopia e alergia ocular, que conduz a uma diminuição da estabilidade biomecânica da córnea.

O impacto visual desta patologia decorre do facto de existir uma deformação localizada na principal lente do sistema ótico do olho, a córnea, que gera um desacerto complexo na frente de onda de luz que progride para dentro do olho em direção à retina, para produzir a imagem; dada a irregularidade desta frente de onda, o erro de focagem gerado consiste, não numa simples graduação de miopia ou astigmatismo, mas antes em aberrações óticas de alta ordem que, a não ser em casos leves ou incipientes, não são passíveis de compensação com óculos ou lentes de contacto comuns.

A suspeita de Queratocone pode inicialmente ser levantada por queixas de dificuldade visual marcada, em idade característica, e por alterações sucessivas da graduação em curtos espaços de tempo. Existem alterações específicas observáveis no exame microscópico da córnea, mas os casos mais subtis e iniciais podem apenas ser diagnosticados pela análise morfológica e das aberrações óticas da córnea, efetuada de uma forma muito apurada e precisa com os modernos equipamentos de Topografia/Tomografia de córnea.

A orientação clínica desta patologia depende da sua gravidade, fase de evolução e da existência ou não de progressão documentada. Como comentado previamente, a reabilitação visual destes doentes pode basear-se na correção com óculos ou lentes de contacto hidrófilas apenas nos casos leves; casos mais avançados, só melhoram significativamente com a adaptação de lentes de contacto com desenhos especiais, do tipo rígidas gás-permeável ou híbridas, ou com procedimentos cirúrgicos que objetivam regularizar a superfície da córnea por estiramento, sob implantação de segmentos de anéis intracorneanos; os casos mais graves, com deformação exuberante da córnea ou fenómenos de cicatrização com compromisso direto da transparência, continuam a necessitar ser tratados com transplante da córnea.

Todavia, nenhuma destas formas de reabilitação visual, adaptada a cada caso, trata a causa da ectasia ou impede claramente a sua progressão; nesse sentido, e dado o total interesse em suster a patologia numa fase tão precoce quanto possível, foi desenvolvido um tratamento designado cross-linking do colagéneo corneano, que permite, ao incrementar a rigidez biomecânica da córnea, estabilizar ou no mínimo atrasar a evolução do queratocone, proporcionando ainda em alguns casos, algum grau de melhoria visual.