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Surdez em idade pediátrica

publicado em 26 Jan. 2021

A surdez é relativamente comum em idade pediátrica. A incidência de perda auditiva significativa é estimada em 1 a 3 por 1000 recém-nascidos saudáveis, muito elevada quando comparada a outras doenças nas quais se realiza rastreio precoce. Para além disso, existe um importante aumento de incidência de surdez ao longo da adolescência.

 

Todas as crianças devem ser testadas ao nascer ou, no máximo, até aos trinta dias de vida e, no caso de perda auditiva confirmada, dever-se-á iniciar a intervenção precoce e adequada, até aos seis meses de idade.

 

Não reconhecer e tratar uma surdez de forma precoce e atempada pode afetar gravemente a capacidade de uma criança falar e de compreender a linguagem, o que, por sua vez, pode conduzir a um baixo rendimento escolar, ao isolamento social e a alterações comportamentais.

 

A surdez em crianças pode ser congénita (presente ao nascimento), genética, adquirida e/ou progressiva. É classificada como surdez de condução, neurossensorial ou mista.

 

A surdez de condução resulta de doenças que afetam o ouvido externo (pavilhão auricular e canal auditivo externo) e o ouvido médio (membrana timpânica, ossículos e a cavidade do ouvido médio propriamente dita).

 

A surdez neurossensorial resulta de doenças que afetam a via de transmissão do som ao ouvido interno ou mesmo as vias de comunicação ao cérebro.

 

A otite média efusiva (OME), ou mais vulgarmente denominada otite serosa, consiste na presença de líquido seroso/mucoso na cavidade do ouvido médio e representa a causa principal de surdez na infância. Existem reconhecidos fatores de risco para o seu aparecimento, nomeadamente a entrada para o infantário, o aleitamento na posição deitado, os pais serem fumadores.

 

No que respeita a causas precipitantes, a disfunção ou mesmo a imaturidade da trompa de eustáquio, uma estrutura tubular de ligação entre a faringe e o ouvido médio cuja função permite um equilíbrio de pressões no ouvido, assume-se como desarranjo fundamental. Episódios recorrentes de processos infeciosos, alergias, são outras causas importantes para o aparecimento de OME.

 

O tratamento da OME divide-se em médico e cirúrgico. No que toca ao tratamento médico, este é dirigido aos possíveis “triggers” da doença, sendo o objetivo último a desobstrução nasal. São recomendados concomitantemente exercícios que visam restaurar a função da trompa de eustáquio. Nos casos refratários, que por convenção implicam três meses de tratamento médico otimizado com permanência de perda auditiva significativa, deve ser considerado o tratamento cirúrgico.

 

Uma outra causa de surdez de condução em idade pediátrica é a perfuração do tímpano, que pode ocorrer em consequência de trauma, infeção otológica ou mesmo na sequência de um processo cirúrgico, nomeadamente a colocação de um tubo de ventilação transtimpânico. Também neste caso, não ocorrendo uma cicatrização espontânea da membrana timpânica, o tratamento visa a reconstrução cirúrgica do tímpano.

 

Quando o problema auditivo da criança deriva de uma surdez neurossensorial, o tratamento assenta, consoante a gravidade, no uso de aparelhos auditivos ou em casos devidamente selecionados, num implante coclear (um sistema implantado cirurgicamente que envia sinais elétricos diretamente ao nervo auditivo em resposta a sons).

 

É essencial que o diagnóstico – e o tratamento – deste tipo de surdez ocorra precocemente, sendo que, quanto mais cedo este for realizado, mais cedo as intervenções podem ser iniciadas, assegurando desta forma o correto desenvolvimento da criança.