Falar de saúde mental nas empresas já não é tabu. É uma urgência.
Se há alguns anos este tema era visto como algo acessório, ou até reservado para momentos de crise, hoje sabemos, com base na evidência e na prática, que o bem-estar psicológico dos colaboradores é determinante para o sucesso de qualquer organização. Mais do que um gesto de cuidado, trata-se de uma estratégia de gestão inteligente.
A saúde mental está presente todos os dias — quer a vejamos ou não
Todos levamos connosco para o trabalho mais do que competências técnicas. Levamos as nossas emoções, preocupações, histórias, expectativas. E é no trabalho que passamos grande parte das nossas vidas. Por isso, não surpreende que a saúde mental seja profundamente influenciada pelo ambiente laboral, pela forma como somos tratados, ouvidos, reconhecidos ou pressionados.
Não estamos a falar apenas de situações-limite, como o burnout ou os esgotamentos. Estamos a falar de cansaço acumulado, relações tensas, comunicação ineficaz, sensação de injustiça ou falta de sentido. Pequenos sinais, muitas vezes ignorados, mas que têm impacto real na forma como nos sentimos e produzimos
O custo de não agir
Ignorar estas questões pode sair caro. Em termos humanos, porque o sofrimento silencioso mina a motivação e a saúde dos colaboradores. E em termos organizacionais, porque o absentismo, a quebra de produtividade e a rotatividade têm consequências diretas na sustentabilidade das empresas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, os problemas de saúde mental são uma das principais causas de incapacidade laboral no mundo. E estima-se que a cada euro investido na promoção da saúde psicológica, o retorno seja quatro vezes superior, entre ganhos de produtividade e redução de custos com baixas ou substituições
O que pode ser feito e por onde começar
Felizmente, as soluções existem e são adaptáveis à realidade de cada organização. Não se trata de criar uma empresa “perfeita”, mas de construir ambientes mais humanos, com espaço para a escuta, a prevenção e a ação.
Aqui ficam algumas práticas que têm demonstrado resultados consistentes:
- Diagnóstico emocional do ambiente de trabalho: Ouvir os colaboradores, compreender os seus desafios, identificar fatores de risco e pontos fortes. Só assim é possível intervir com eficácia.
- Formação em competências socio emocionais: Equipas emocionalmente competentes gerem melhor o stress, comunicam de forma mais clara e têm maior capacidade de resolução de conflitos.
- Promoção ativa do equilíbrio entre vida pessoal e profissional: Não é um luxo – é uma necessidade. Incentivar pausas, limites saudáveis e respeito pelos tempos de descanso é essencial para prevenir o desgaste.
- Apoio psicológico acessível: A existência de apoio psicológico interno ou externo, em momentos pontuais ou preventivos, reforça a confiança dos colaboradores e diminui o risco de agravamento de situações.
- Cultura de liderança consciente: Liderar com empatia, dando o exemplo, criando espaço para o diálogo e a escuta ativa. Porque uma liderança tóxica pode anular até as melhores intenções organizacionais.
Cuidar das pessoas é cuidar da empresa
No final, o que está em jogo é mais do que a produtividade. É a qualidade das relações, a motivação dos profissionais, a imagem da empresa e o legado que se constrói.
Trabalhar a saúde mental no contexto organizacional não é uma moda passageira – é um investimento sustentado no que há de mais valioso numa empresa: as pessoas.
Como psicólogo, tenho acompanhado de perto os impactos que ambientes saudáveis ou disfuncionais, têm na vida profissional e pessoal dos colaboradores. E se há uma certeza que a experiência me traz é esta: não há crescimento duradouro sem bem-estar.
Que este seja um ponto de partida para conversas sérias, decisões conscientes e mudanças consistentes no modo como olhamos para o trabalho e para quem o realiza todos os dias