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Consulta do Viajante: antecipar e prevenir doenças

publicado em 04 Jul. 2025

Vivemos num mundo cada vez mais interligado, onde a circulação global de pessoas é frequente, seja por motivos profissionais ou de lazer. A saúde em viagem é, por isso, uma preocupa­ção crescente e é neste contexto que surge a Consulta do Viajante – uma oportunidade essencial para quem se prepara para viajar e quer garantir uma deslocação segura e informada.

O que é a Medicina do Viajante?

A Medicina do Viajante é uma área da Medicina que tem como principal objetivo orientar o viajante antes da sua deslocação, antecipando riscos e promovendo medidas preventivas para evitar doenças relacionadas com o destino.

 

Cada consulta é personalizada, tendo em conta as características do viajante, o seu estado de saúde, os destinos a visitar e as atividades planeadas. O objetivo é que, no final da consulta, o viajante esteja plenamen­te consciente dos riscos que poderá enfrentar e saiba como os prevenir ou minimizar.

Quem deve marcar uma consulta?

Mesmo viagens consideradas simples podem implicar riscos para a saúde, pelo que a preparação adequada é fundamental. Deve considerar marcar esta consulta, especial­mente se for:

 

  • Viajante que nunca viajou para fora da Europa: Muitas doenças tropicais e infecciosas são desconhecidas para quem vive em regiões temperadas. Viajar para destinos onde existe maior risco de doen­ças transmitidas por mosquitos, alimentos, água ou contacto com animais exige uma preparação específica;
  • Quem desconhece os riscos do destino: Cada país – e até mesmo regiões dentro do mesmo país – podem apresentar per­fis epidemiológicos distintos. Conhecer as doenças locais, as vacinas obrigatórias e as medidas preventivas é essencial para evitar surpresas desagradáveis durante a viagem;
  • Grávida ou quem planeia engravidar: A gravidez altera o sistema imunitário e algumas vacinas ou medicamentos não são recomendados durante este período. Além disso, certas doenças infecciosas podem afetar o feto, tornando indispensável uma avaliação especializada antes da deslocação;
  • Crianças e idosos: Estes grupos têm sistemas imunitários mais frágeis ou comprometidos, o que aumenta o risco de complicações caso contraiam uma doença É neces­sário ajustar as vacinas e os cuidados para garantir a máxima segurança;
  • Pessoas imunocomprometidas: Indivíduos com doenças cró­nicas ou que estejam a realizar tratamentos imunossupressores como quimioterapia, uso prolongado de corticosteroides, etc, necessitam de uma abordagem individualizada para garantir segurança nas vacinas e profilaxias;
  • Profissionais que viajam em trabalho para zonas de risco: Médicos, veterinários, trabalhadores rurais, militares, cientistas e outros que operem em áreas com elevado risco de exposição a agentes infecciosos devem receber orientações específicas, incluindo vacinação pré-exposição, como é o caso da vacina contra a raiva;
  • Turistas aventureiros e mochileiros: Quem pretende fazer trekking, campismo, escalada ou visitar zonas remotas deve estar preparado para riscos específicos, como malária, doenças transmitidas por carraças ou acidentes com animais selvagens;
  • Quem planeia realizar atividades de risco ou desportos específicos: Mergulho, desportos de aventura ou atividades em altitude exigem aconselhamento para prevenir complica­ções, como doença descompressiva, mal da altitude ou aci­dentes.

O que é abordado na Consulta do Viajante?

A consulta é estruturada para oferecer uma avaliação completa. Entre os temas abordados, destacam-se:

 

  • História clínica do viajante: doenças crónicas, alergias, cirur­gias, medicação habitual, estado vacinal;
  • Tipo de viagem: trabalho, lazer, etc.;
  • Duração e itinerário completo da viagem, incluindo escalas e todos os locais a visitar, pois dentro do mesmo país, cada região tem as suas especificidades que alteram o risco e exigem abordagens preventivas distintas;
  • Condições de alojamento: hotel, hostel, campismo, casa de familiares;
  • Atividades previstas,como contacto com animais, caminhadas na natureza, altitude, mergulho, entre outras.

 

De salientar que animais como macacos, cães, morcegos, gatos, entre outros, se estiverem infetados com raiva, podem transmitir a doença aos humanos através de mordeduras ou arranhões.

 

A raiva é uma doença viral grave que afeta o sistema nervoso central, causando inflamação do cérebro e, na maioria dos casos, é fatal se não tratada rapidamente. Por isso, o viajante deve evitar, sempre que possível, o contacto com animais. Em caso de contacto, deve lavar imediatamen­te a ferida com água e sabão e procurar atendimento médico com urgência para iniciar o tratamento profilático (vacinação pós-exposição);

 

  • Riscos epidemiológicos do destino, com atualização sobre doenças endémi­cas locais, tendo em conta que frequen­temente surgem novos surtos;
  • Vacinas recomendadas: febre amarela, hepatite A, febre tifoide, raiva, encefalite japonesa, entre outras;
  • Avaliação da necessidade de profila­xia da malária;
  • Medidas preventivas para a picada de insetos: qual repelente usar e como aplicá-lo, uso de roupas compridas e largas, utilização de redes mosquiteiras, evitar perfumes e cremes com cheiro, evitar nadar em águas paradas como lagos, manter as janelas fechadas e o ar condicionado regulado a 21.°C no quarto;
  • Medidas de higiene alimentar em viagem: preferir frutas que se possam descascar no momento, evitar ingerir bebidas com gelo, verificar se as garra­fas de água estão devidamente seladas, em alguns casos lavar os dentes com água engarrafada, preferir alimentos cozinhados a crus, evitar doces com ovos crus, entre outras precauções;
  • Conselhos sobre exposição solar,alti­tude e mergulho;
  • Farmácia de viagem personalizada;
  • Cuidados durante o voo: risco trom- boembólico, jet-lag, hidratação, entre outros;
  • Planos para situações de urgência: seguros, evacuação médica, acesso a cuidados de saúde no destino).

Com que antecedência deve marcar uma consulta?

Idealmente, a consulta do viajante deve ocorrer com um a dois meses de ante­cedência em relação à data da viagem.

 

Caso o viajante necessite de vacinas, estas devem ser administradas atempadamente, para que estejam ativas e proporcionem a proteção necessária. Em viagens de última hora, recomenda-se marcar a consulta o mais cedo possível, mesmo que a antece­dência seja curta, pois algumas interven­ções podem ainda ser úteis.

O que levar para a consulta?

A pessoa que vai viajar deve levar para a consulta o seu boletim de vacinas, o Certi­ficado Internacional de Vacinação (se apli­cável), uma lista completa da medicação habitual e eventuais alergias e informação detalhada sobre os destinos e datas exatas da viagem.

É fundamental manter a prevenção após o regresso, nomeadamente a vigilância dos sintomas e, se necessário, realizar avalia­ção pós viagem. A Medicina do Viajante salva vidas, previne doenças potencial men­te graves e assegura que a experiência da viagem decorra com segurança.

Entrevista in Revista Saúde e Bem-Estar julho/agosto de 2025