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Respiração nasal vs oral em idade pré-escolar: impacto nas funções orofaciais e implicações terapêuticas

publicado em 05 Dez. 2025

O que é a respiração nasal e oral?

A respiração nasal é o modo fisiológico e natural de respirar, responsável por aquecer, filtrar e humidificar o ar antes de chegar aos pulmões. Já a respiração oral ocorre quando se utiliza predominantemente a boca para respirar, muitas vezes devido a obstruções nas vias aéreas superiores. A respiração oral contínua pode alterar o crescimento craniofacial, a função muscular orofacial e o desenvolvimento das funções de sucção, mastigação, deglutição e fala.

Quais são as causas da respiração oral?

As causas mais frequentes incluem:

  • Aumento das amígdalas ou adenóides (vegetações);
  • Alergias respiratórias e rinite crónica;
  • Desvio do septo nasal ou obstruções nasais;
  • Hábito prolongado de chupeta ou sucção digital;
  • Postura incorreta da língua e hipotonia labial;
  • Padrão respiratório aprendido após infeções repetidas

Quais são os sintomas mais comuns?

A respiração oral pode manifestar-se através de sinais físicos e comportamentais, como:

  • Boca entreaberta e lábios secos;
  • Sono agitado e roncopatia (ronco);
  • Face alongada e olheiras frequentes;
  • Dificuldade de mastigação e deglutição;
  • Alterações na fala (voz anasalada ou articulação imprecisa);
  • Respiração ruidosa e fadiga durante o dia.

 

A longo prazo, a criança pode apresentar alterações no crescimento facial e dentário, afetando a estética e a função.

Como é feito o diagnóstico?

A avaliação deve ser multidisciplinar, envolvendo Terapia da Fala, Otorrinolaringologia, Odontopediatria e Ortopedia Funcional dos Maxilares, entre outros. O Terapeuta da Fala analisa:

  • O padrão respiratório e a permeabilidade nasal;
  • A postura da língua, dos lábios e da mandíbula;
  • O tónus e a mobilidade muscular orofacial;
  • O tipo de mastigação e deglutição;
  • A ressonância vocal e a qualidade da fala.

 

Podem ser utilizados protocolos padronizados de motricidade orofacial, bem como exames complementares para avaliação das vias respiratórias.

Qual é o tratamento e o papel da Terapia da Fala?

A Terapia da Fala tem papel essencial na reeducação do padrão respiratório nasal e na reorganização das funções orofaciais. A intervenção inclui:

  • Exercícios de fortalecimento dos órgãos fonoarticulatórios;
  • Treino da respiração nasal funcional;
  • Correção da postura e repouso lingual;
  • Reeducação da mastigação e deglutição fisiológicas;
  • Orientação aos pais sobre hábitos e posturas corretas.

 

Em muitos casos, o trabalho é feito em conjunto com médicos e dentistas, garantindo uma abordagem integrativa e duradoura.

Como pode ser prevenida?

A prevenção baseia-se na deteção precoce de alterações respiratórias e na promoção de hábitos funcionais corretos.

  • Incentivar a respiração nasal desde o nascimento;
  • Corrigir hábitos orais deletérios (chupeta, sucção digital, biberão prolongado);
  • Assegurar avaliação periódica das vias aéreas e da função orofacial;
  • Promover atividade física e postura corporal adequada;
  • Encaminhar precocemente a criança para Terapia da Fala se houver sinais de respiração oral.

 

A prevenção evita alterações estruturais e favorece o desenvolvimento harmonioso do sistema estomatognático.

Bibliografia:
Costa, L., & Fernandes, I. (2021). Relação entre respiração oral e alterações de fala em idade pré-escolar: estudo preliminar em Portugal. Revista Portuguesa de Terapia da Fala, 3(2), 45–54.
Marchesan, I. Q. (2010). Motricidade Orofacial: fundamentos e práticas clínicas. São Paulo: Pulso Editorial.
Felício, C. M., & Ferreira, C. L. (2018). Respiração oral: impacto funcional e terapêutico. Journal of Oral Rehabilitation, 45(5), 312–319.
Guimarães, K. (2020). Reeducação miofuncional na respiração oral. São Paulo: Pulso.