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A Epidemia da Miopia

publicado em 05 Dez. 2025

A miopia é o erro refrativo mais frequente, sendo definido por um valor igual ou mais negativo que -0,50 Dioptrias (D) no olho menos míope. A miopia não corrigida é a principal causa de cegueira em todo o mundo (Flaxman et al).

 

Nos dias de hoje, constitui uma epidemia difícil de ignorar: em 2010 a sua prevalência global era de 28%, sendo expectável que atinja os 50% em 2050 (World Health Organization, Holden et al).

 

Os estudos demonstram uma interação complexa entre os fatores genéticos, ambientais e comportamentais no início e na progressão da miopia (Mirhajianmoghadam et al).

 

O aumento da prevalência da miopia está associado a alterações ambientais e no estilo de vida: aumento do tempo em que a criança está e em ambientes fechados dentro de casa, maior utilização de aparelhos eletrónicos como o telemóvel ou o tablet e diminuição do tempo ao ar livre (Dolgin et al, Xu et al).

 

O período de confinamento Covid-19 foi penalizador para a saúde da criança em vários níveis (menor tempo outdoor e maior tempo em ecrãs), sendo responsável por um crescente aumento na prevalência e progressão da miopia, sobretudo nas crianças dos 6 aos 8 anos (Wang et al). Este aumento foi mais significativo nas crianças mais novas (6 aos 8 anos) relativamente às crianças mais velhas (9 a 13 anos), parecendo existir um período crítico de maior suscetibilidade para os fatores de riscos associados ao estilo de vida.

 

Hoje em dia, o panorama de intervenção na miopia mudou. No passado, o aumento da miopia durante o crescimento da criança era uma inevitabilidade. Atualmente já é possível identificar crianças de risco, evitar ou atrasar o início da miopia, diminuir a evolução da miopia.

 

Existem, assim, tratamentos eficazes para o tratamento da progressão de miopia, incluindo medidas sociais, tratamentos farmacológicos e óticos.

 

O tempo de intervenção ideal é na idade escolar, sendo a altura ideal de rastreio da miopia o 1º ano de escolaridade, identificando atempadamente a miopia e prevenindo fatores de risco prejudiciais.

As crianças míopes de hoje são, futuramente, os adultos e idosos míopes de amanhã

O objetivo é, então, evitar a progressão de miopia para graus mais avançados (alta miopia). A progressão da miopia para maiores valores de dióptricos (grau igual ou mais negativo que -6 Dioptrias) está associada a patologias oftalmológicas potencialmente graves e incapacitantes, como descolamento de retina, degenerescência miópica macular, glaucoma e catarata.

Referências Bibliográficas

World Health Organization. The High Impact of Myopia and High Myopia. WHO; 2017. Accessed Oct. 24, 2025.

 

Holden BA, Fricke TR, Wilson DA, et al. Global Prevalence of Myopia and High Myopia and Temporal Trends from 2000 through 2050. Ophthalmology 2016;123(5):1036–42.

 

Mirhajianmoghadam H, Piña A, Ostrin LA: Objective and subjective behavioral measures in myopic and non-myopic children during the COVID-19 pandemic. Transl Vis Sci Technol. 2021, 10:4. 10.1167/tvst.10.11.4

 

Dolgin E. The myopia boom. Nature 2015;519(7543):276–8.  Xu L, Ma Y, Yuan J, et al.: COVID-19 quarantine reveals that behavioral changes have an effect on myopia progression. Ophthalmology. 2021, 128:1652-4. 10.1016/j.ophtha.2021.04.001

Wang J, Li Y, Musch DC, Wei N, Qi X, Ding G, Li X, Li J, Song L, Zhang Y, Ning Y, Zeng X, Hua N, Li S, Qian X. Progression of Myopia in School-Aged Children After COVID-19 Home Confinement. JAMA Ophthalmol. 2021 Mar 1;139(3):293-300.

 

Flaxman SR, Bourne RRA, Resnikoff S, et al. Global causes of blindness and distance vision impairment 1990–2020: a systematic review and meta-analysis. Lancet Glob Health 2017;5(12):e1221–e34.