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As férias de verão e a otite do nadador

publicado em 12 Ago. 2022

A otite externa aguda é um processo inflamatório agudo da pele do canal auditivo externo. Pode ocorrer em todas as idades, estimando-se que 10% da população desenvolva esta patologia em algum momento durante a sua vida. Ocorre mais frequentemente nos meses de verão devido não só ao aumento do calor e humidade do ambiente, mas sobretudo à maior participação em desportos aquáticos, motivo pelo qual é também designada por otite do nadador.

 

A causa mais comum da otite externa aguda é a infeção bacteriana. Vários fatores de risco podem predispor ao seu desenvolvimento designadamente:

  • prática de desportos aquáticos ou de outras atividades que cursem com exposição do ouvido à água;
  • estenose congénita ou adquirida do canal auditivo externo;
  • traumatismos do canal auditivo externo (exemplos: coçar frequente do ouvido, uso de cotonetes);
  • uso de dispositivos que ocluam o canal auditivo externo (exemplos: aparelhos auditivos, auriculares, tampões);
  • doenças dermatológicas (exemplos: psoríase, eczema, dermatites);
  • história prévia de radioterapia;
  • diabetes mellitus e outras formas de imunossupressão.

Os sintomas mais comuns são a dor e a comichão no ouvido, podendo ainda cursar com otorreia e perda auditiva. É comum o agravamento da dor com a manipulação do pavilhão auricular assim como sinais inflamatórios locais, como eritema e edema.

O diagnóstico é clínico, baseado na história clínica e no exame objetivo otorrinolaringológico.

 

O tratamento da otite externa aguda depende da severidade da doença e dos fatores de risco de cada doente. A limpeza do canal auditivo externo, realizada sempre por profissionais qualificados, é o primeiro passo no tratamento, pois permite não só remover o cerúmen e o material purulento, como também facilitar a instilação do tratamento tópico (base do tratamento), levando a uma mais rápida recuperação da doença. O tratamento tópico consiste em gotas otológicas, geralmente uma associação de antibiótico (com ação bactericida sobre os agentes microbiológicos mais comuns) e de corticosteroide (cuja ação diminui os sinais inflamatórios locais, permitindo um alívio mais rápido dos sintomas), com ou sem um agente acidificante do canal. Nas formas mais severas e/ou em doentes com fatores de risco para complicações (como diabetes ou imunossupressão), além do tratamento tópico está preconizada a utilização de antibioterapia oral. Faz também parte do tratamento a evicção de exposição aural à água e analgesia para controlo da dor.

 

Na maioria dos casos trata-se de uma doença autolimitada, com resolução completa do quadro após tratamento adequado. Contudo, numa pequena percentagem, nomeadamente em doentes com diabetes mellitus, idosos e imunocomprometidos, podem ocorrer complicações como a pericondrite, a celulite do pavilhão auricular e a otite externa maligna, esta última com um desfecho potencialmente fatal se não diagnosticada e tratada precocemente.

 

A prevenção desta patologia, nomeadamente em doentes com fatores de risco, durante o período das férias de verão ou no caso de episódios recorrentes, assenta numa higiene aural cuidadosa que visa a evicção da manipulação do canal auditivo externo, na proteção do ouvido aquando da exposição de água e, em casos selecionados, uso de gotas otológicas acidificantes do canal.