A cárie infantil ou precoce é uma das doenças mais prevalentes na infância.
Esta patologia exerce um forte impacto no bem-estar individual e social da criança, sendo responsável pela destruição, dor e consequente perda prematura dos dentes. Apesar dos grandes avanços na prevenção e de uma maior sensibilização da população quanto à importância da preservação da dentição decídua (comummente apelidada de “dentes de leite”), a perda prematura destes dentes é ainda significativa. Esta queda precoce impede que a esfoliação (troca dos dentes de leite pelos definitivos) seja feita atempadamente, afetando assim o adequado desenvolvimento do sistema estomatognático responsável pela mastigação, deglutição, fonação e preservação do espaço necessário para a erupção dos dentes permanentes. O desenvolvimento anormal deste sistema pode levar a problemas respiratórios, deteriorando o sono e originar cefaleias nas crianças.
A cárie é uma patologia infeciosa comum, crónica e transmissível, resultante da atividade de bactérias específicas que aderindo à superfície dentária provocam a desmineralização do esmalte. O curso clínico comum desta patologia inicia-se pelos incisivos superiores, seguindo-se dos molares e caninos. Não havendo uma intervenção atempada, os restantes dentes serão afetados antes dos 4 anos. Dado que a idade de esfoliação dos últimos dentes decíduos é entre os 10 e os 13 anos, importa garantir a permanência e o bom estado destes, de forma a evitar a lesão do dente permanente e manter o espaço necessário para a sua erupção.
A prevenção baseia-se no acompanhamento desde o primeiro instante, existindo etapas do crescimento cruciais para a intervenção, tais como: lactentes (0-6 meses), crianças dos 7 meses aos 2 anos, crianças do ensino pré-escolar (3-5 anos) e do ensino básico (6-10 anos). Esta prevenção e intervenção requerem a compreensão e valorização das capacidades dos pais como promotores de bons hábitos de higiene oral. A transmissão dos microrganismos ocorre através da saliva, principalmente de contacto direto com o agente patogénico por intermédio de beijos, mãos ou talheres e chupetas manuseadas por indivíduos contaminados.
É de extrema importância que se perceba que a falta de hábitos de higiene oral acrescidos de maus hábitos alimentares e desmazelo com as visitas regulares ao dentista culminam sempre em situações mais graves, onde as crianças já se apresentam à consulta com dor, dificultando assim a intervenção e consequente recusa da criança ao tratamento. Muitas situações que seriam apenas uma pequena lesão de cárie, que requer um tratamento minimamente invasivo e de curta duração, culminam em situações dolorosas, com abcessos e perca das peças dentárias. Os pais acabam por recorrer a medicação, muitas vezes não prescrita, que apenas atenua os sintomas mas mantendo a causa.
Assim sendo, a importância da intervenção atempada na prevenção e tratamento da cárie incidente nos dentes de leite é fulcral para garantir uma boa saúde oral, que se repercute ao longo do crescimento.
