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Causas que prejudicam a possibilidade de engravidar

publicado em 15 Mar. 2023

A infertilidade é definida pela Organização Mundial de Saúde como a incapacidade de obter uma gravidez após 12 meses de relações sexuais regulares sem contraceção e afeta cerca de 10 a 15% dos casais.

 

Existem vários motivos associados à infertilidade, sendo que nos países desenvolvidos é possível identificar uma causa feminina em até 37% dos casos e uma causa masculina em 8%. Em 35% dos casos existe uma causa de ambos os membros do casal e em 5% dos casos não é possível identificar uma causa que justifique a incapacidade de gerar gravidez. Dentro das causas femininas, são comuns:

  • Disfunção da ovulação, que se manifesta muitas vezes por ciclos menstruais irregulares e que pode, entre outras causas, ser secundária a uma síndrome do ovário poliquístico;
  • Obstrução das trompas de Falópio (causada por exemplo por uma infeção pélvica prévia, que pode ter cursado sem sintomas e, por essa razão, não ter sido diagnosticada);
  • Endometriose;
  • Malformações congénitas do útero.

 

Já entre as causas masculinas, existem diversos fatores que alteram a concentração, motilidade e  forma dos espermatozoides como doenças crónicas (por exemplo, diabetes, doenças da tiroide, cancro) ou a varicocele (dilatação das veias dos testículos).

Para além das causas supracitadas, existem outros fatores ambientais e do estilo de vida que podem dificultar a conceção:

 

1. Idade

 

O aumento da idade é o fator mais associado à diminuição da fertilidade na mulher.

 

Apesar de muitas senhoras esperarem pelo “momento certo”, a verdade é que a fertilidade feminina diminui muito rapidamente a partir dos 35 anos. Isto acontece porque a mulher já nasce com todos os folículos que vai libertar ao longo da vida (os folículos contêm os ovócitos que juntamente com os espermatozoides originam o zigoto/embrião). Quando nasce, a mulher contém nos seus ovários cerca de um milhão de folículos, mas este valor desce para 300 000 – 400 000 na puberdade. A partir dessa fase, todos os meses são recrutados vários folículos, diminuindo assim a reserva de células femininas capazes de gerar gravidez. O ritmo de “gasto” destas células é mais acelerado a partir dos 35 anos, ao mesmo tempo que a qualidade ovocitária diminui. Estes 2 fatores associados diminuem muito a probabilidade de atingir uma gravidez espontânea em idades “mais tardias”.

 

2. Dormir pouco

 

O sono é fundamental para o bom funcionamento da hipófise que é uma glândula localizada no cérebro e que afeta diretamente o funcionamento dos ovários nas mulheres e dos testículos nos homens. Um estudo revelou uma maior frequência de infertilidade nos homens que dormem menos de 6 horas por noite, comparativamente aqueles que dormem 8 horas.

 

3. Má alimentação/ peso inadequado

 

O consumo de alimentos processados e ricos em gorduras saturadas prejudica a fertilidade. Uma dieta saudável é recomendada para todos, mas especialmente para quem está a tentar engravidar.

 

O excesso de peso parece ter efeitos deletérios em ambos os membros do casal: nos homens ocorre uma diminuição da produção de testosterona (hormona masculina) que pode causar diminuição da libido ou dificuldades na ereção e um aumento do estradiol que diminui a concentração de espermatozoides; na mulher o aumento de massa gorda interfere com a concentração de estrogénio (hormona feminina) que pode impedir a ovulação ou torná-la mais irregular. O baixo peso pode ter o mesmo efeito por interferir com a produção desta hormona e pode mesmo associar-se à amenorreia (não ter menstruação de todo).

 

4. Exercício físico excessivo

 

O exercício intensivo parece interferir com o funcionamento da hipófise e, consequentemente, com o funcionamento dos ovários e dos testículos. Outro aspeto relacionado com o exercício que prejudica muito a fertilidade é a utilização de esteroides anabolizantes e outras drogas que aumentam o ganho de massa muscular. A grande maioria causa uma diminuição abrupta na produção de espermatozoides pelo que a sua utilização deve ser suspensa de imediato.

 

5. Stress

 

Interfere, de várias formas, com o normal funcionamento da hipófise (e das outras glândulas no geral) alterando o funcionamento das gónadas (ovários e testículos). Associa-se muitas vezes a pior qualidade do sono, que como referido anteriormente, também prejudica a fertilidade

 

6. Tabaco e álcool

 

Os casais em que um ou ambos os elementos são fumadores demoram mais tempo para engravidar que os casais não fumadores, sendo que esse tempo aumenta diretamente com o maior número de cigarros fumados pela mulher.

 

O tabaco aumenta o risco de várias doenças, mas também de menopausa mais precoce, gravidez ectópica (gravidez fora do útero) e mesmo abortamentos após conseguir a gravidez. Mesmo os casais submetidos a técnicas de procriação medicamente assistida, têm menor chance de sucesso de gravidez se forem fumadores. Quanto ao álcool, o consumo excessivo associa-se a uma menor quantidade de espermatozoides e de “menor qualidade”. Já na mulher, uma vez que qualquer quantidade de álcool está contraindicada na gravidez, recomenda-se suspender a ingestão desde logo no período pré-concecional, ou pelo menos o seu consumo mínimo até confirmação da gravidez.

 

7. Medicamentos

 

Alguns fármacos (como antiepiléticos, antidepressivos, ansiolíticos, entre outros) interferem, através de diferentes processos, no funcionamento quer da ovulação na mulher, causando irregularidades menstruais, quer na produção de espermatozoides. Muitas vezes é possível trocar a medicação, de forma a aumentar o sucesso reprodutivo, pelo que se recomenda uma consulta pré-concecional a todos os casais quando estes pensam em engravidar.

 

8. Temperaturas elevadas na zona testicular

 

Os testículos encontram-se fora do corpo masculino, dentro do escroto, precisamente para estarem a uma temperatura inferior (entre 2-4 graus Celcius) à dos restantes órgãos do corpo.

 

Fontes de calor perto da região genital prejudicam a qualidade do esperma (nomeadamente a concentração e motilidade dos espermatozoides) e, devem por isso, ser evitadas. Recomendações neste sentido incluem: evitar tomar banho com água demasiado quente, utilizar roupa interior apertada ou trabalhar com o computador portátil, por longos períodos, no colo.

 

Por último, mas não menos importante, quando deve o casal procurar ajuda médica? Recomenda-se a avaliação médica se não se obtém uma gravidez após 12 meses de relações sexuais desprotegidas ou ao fim de 6 meses se a mulher apresentar idade igual ou superior a 35 anos.