Quantas vezes os familiares, amigos, público em geral – incluindo os próprios profissionais de saúde – culpam o doente obeso pelo seu excesso de peso? Que tudo radica na sua falta de vontade em comer menos e fazer mais exercício? Parece tão simples.
No entanto, se fosse um problema simples de resolver, certamente não continuaria a ser um problema. O corpo de um obeso conspira contra si mesmo. Qualquer redução do aporte calórico (“comer menos”) ou aumento do seu gasto (“mais exercício”) despoleta uma reação compensatória que promove a recuperação de peso, condicionada por fatores genéticos, mecanismos adaptativos hormonais e metabólicos, interação com o microbioma intestinal e alterações na bioquímica cerebral. Portanto, é um problema complexo que requer uma abordagem multidisciplinar.
Todos os programas de perda de peso requerem modificações no estilo de vida. “Nada muda se nada mudar”, mas não existem fórmulas mágicas que resultem para todos. Hábitos alimentares saudáveis, prática regular de atividade física, boa higiene do sono e outras mudanças comportamentais são o primeiro passo.
A abordagem deve ser individualizada e acompanhada por profissionais dedicados (de nutrição, prescrição de exercício e saúde mental) para atingir e manter os objetivos pretendidos a longo prazo.
Adicionalmente, impõe-se a investigação de condições médicas que possam estar a contribuir para a obesidade, bem como de outras que dela resultam ou lhe estão associadas (hipertensão arterial, problemas cardiovasculares, diabetes, dislipidemia, apneia do sono, hipoventilação do obeso, patologia osteoarticular). Um médico especialista com experiência no tratamento de obesidade poderá ainda propor e prescrever tratamentos farmacológicos que ajudam a diminuir o apetite, antecipar a sensação de saciedade ou reduzir absorção de gorduras. Não obstante, em muitos casos, pode não ser suficiente.
As normas de orientação mais atuais de sociedades científicas internacionais assumem, inequivocamente, que a Cirurgia de Obesidade e Metabólica deixou de ser uma simples opção a ser considerada. As técnicas cirúrgicas deste âmbito são fortemente recomendadas para o tratamento eficaz da obesidade enquanto doença, bem como das suas complicações associadas – sendo que o seu efeito vai para além da mera perda de peso. Os procedimentos atualmente aprovados – gastrectomia vertical calibrada (“sleeve”), bypass gástrico e outras técnicas derivadas – realizados por via minimamente invasiva (laparoscópica) e por cirurgiões dedicados, demonstram perda de peso máxima com efeitos de regulação de metabolismo e, simultaneamente, taxas de complicações mínimas. O seu impacto vai mais além, estando associado à diminuição de incidência de alguns tipos de cancro, relacionados com excesso de adiposidade e insulino-resistência.
Deixar de ser obeso não é simples, mas a solução é alcançável e, sobretudo, muito compensadora. Perder peso é ganhar vida, tudo começa com um primeiro passo. É hoje o dia? 11 de outubro, Dia Mundial de Combate à Obesidade.
