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Como tratar o Refluxo Gastroesofágico

publicado em 24 Ago. 2020

A Doença de Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é uma doença que atinge cerca de 10 a 20% da população adulta ocidental. A sua principal causa é o deterioramento progressivo do esfíncter esofágico inferior, mecanismo muscular que impede o regresso da comida do estômago para o esófago, que está menos preparado para o conteúdo ácido.

 

Contribuem para o refluxo o excesso de peso, o consumo de álcool, tabaco, café, chocolates, gorduras ou alimentos ácidos. A gravidez ou doenças, como hérnias do hiato, estão também relacionadas com a DRGE.

 

O refluxo persistente pode levar ao desenvolvimento de complicações como a esofagite, estenose esofágica ou doença de Barrett e tem sido identificado como fator determinante para a crescente incidência de adenocarcinoma esofágico (subtipo de cancro do esófago). Os principais sintomas são a azia, sensação de ardor/queimadura no peito, a regurgitação (regresso involuntário de comida para a boca) e até a dificuldade em engolir. Outros sintomas menos típicos que também podem estar presentes são a tosse seca persistente, sobretudo durante a noite, dor torácica, asma, mau hálito ou o globus faríngeo (sensação de bola na garganta).

 

Numa fase inicial, o tratamento consiste, sobretudo, na correção de hábitos alimentares e outros fatores de risco. O controlo dos sintomas tornou-se mais fácil com o uso de medicamentos antiácidos (os protetores do estômago), que tornam o conteúdo do estômago menos ácido e, portanto, menos irritativo para o esófago. O uso crónico (por longos períodos) desta medicação tem sido questionado nos últimos anos por alguns efeitos adversos, como o aparente aumento da incidência de cancro do estômago.

 

Apesar de muito importante no controlo dos sintomas, a terapêutica antiácida não trata o refluxo, isto é, não impede o retorno da comida para o esófago. Por sua vez, a cirurgia oferece a possibilidade de resolução do Refluxo Gastroesofágico, que se acredita ser essencial na prevenção de complicações, como o esófago de Barret ou as neoplasias, tornando-se uma opção válida, não apenas para doentes sem controlo de sintomas com os protetores gástricos, doentes com complicações da doença como esofagite ou esófago de Barret para prevenção da evolução para cancro, mas também em doentes jovens com resposta à terapêutica médica em que a doença estará presente por muitos anos.

 

A cirurgia anti-refluxo mais frequentemente utilizada é a Fundoplicatura de Nissen por via laparoscópica, que consiste em utilizar o estômago para refazer um mecanismo de válvula que impeça o retorno de conteúdo alimentar ao esófago. É uma cirurgia sem remoção de qualquer parte do estômago, reversível e com um internamento habitual de 1 ou 2 dias de pós-operatório.

 

Os doentes que sofrem de azia, tosse seca persistente ou que necessitam de medicação antiácida recorrente devem ser avaliados por um médico experiente na DRGE, habitualmente das especialidades de Gastrenterologia ou Cirurgia Geral, de modo a estratificar o quadro, avaliar os riscos associados e estabelecer para cada doente um plano de tratamento ou vigilância.