O glaucoma é uma doença ocular que causa dano progressivo do nervo ótico (no ponto em que este deixa o olho para transportar informações visuais ao cérebro), podendo conduzir a uma acentuada perda de visão se não for precocemente detetado e tratado. É a segunda principal causa de cegueira no mundo (12.3% dos casos, ultrapassado apenas pela catarata com 47.8% dos casos), tornando-se na principal causa quando se trata de cegueira irreversível. Acomete aproximadamente 80 milhões de pessoas no mundo e 200 mil pessoas em Portugal.
Existem diversas formas de glaucoma: os primários, que ocorrem sem causa conhecida, e os secundários, que podem estar associados a outras condições oculares (ex.: pseudoexfoliação, uveíte, neovascularização), extraoculares (ex.: fístula arteriovenosa intracraniana) ou fármacos (ex.: corticoides); os de ângulo fechado, que apresentam uma obstrução anatómica da drenagem do humor aquoso (líquido que circula no olho), e os de ângulo aberto, em que existe dificuldade na drenagem ao nível da malha trabecular sem uma obstrução evidente. Podem surgir ao nascimento (congénitos) e na infância ou juventude, mas a maioria ocorre após a 4ª década de vida. Os glaucomas primários de ângulo aberto são os mais comuns.
O principal fator de risco é o aumento da pressão intraocular, que pode ser aferida por tonometria de aplanação de Goldmann numa consulta de oftalmologia. No entanto, convém esclarecer que pode existir hipertensão ocular (> 21mmHg) sem haver glaucoma, da mesma forma que é possível ter glaucoma com pressões intraoculares dentro da normalidade – glaucoma normotensional. O aumento da idade, a raça negra e a história familiar de glaucoma são outros dos fatores de risco.
Esta doença cursa com uma quase ausência de sintomas até uma fase muito tardia em que existe disfunção da visão central; por esse motivo, o glaucoma é conhecido como “o ladrão silencioso da visão”. O diagnóstico baseia-se em alterações funcionais do campo visual, avaliadas por perimetria; e em alterações estruturais do nervo ótico, detetadas à observação clínica e quantificadas por tomografia de coerência ótica (OCT), que é um exame rápido e não invasivo.
Não existe cura para o glaucoma mas existe tratamento, que consiste na redução da pressão intraocular para níveis que impeçam a progressão do dano (mas que não permite recuperar a visão perdida). Habitualmente o tratamento é médico com recurso a anti-hipertensores oculares (colírios); em casos selecionados, atendendo à evolução e gravidade da doença, pode estar indicado tratamento com laser ou cirurgia. Por ser uma doença silenciosa e frequentemente desconhecida (50% dos doentes não sabe que tem glaucoma), que acarreta perda progressiva e irreversível da visão, é da maior importância um diagnóstico e tratamento precoces, aconselhando-se uma avaliação oftalmológica regular, mesmo na ausência de sintomas.
Fontes:
• Resnikoff S, Pascolini D, Etya’ale D, et al. Global data on visual impairment in the year 2002. Bull World Health Organ 2004;82:844–851
• Quigley HA, Broman AT . The number of people with glaucoma worldwide in 2010 and 2020. Br J Ophthalmol 2006;90(3):262-67
• Burr JM, Mowatt G, Hernández R, et al. The clinical effectiveness and cost-effectiveness of screening for open-angle glaucoma: a systematic review and economic evaluation. Health Technology Assessment 2001;11:41