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Hipertensão Arterial: silenciosa mas perigosa

publicado em 27 Ago. 2025

A hipertensão arterial é uma doença que afeta mais de 40% da população portuguesa adulta e que pode não manifestar nenhum sintoma.

 

Nos dias de hoje é muito frequente o Médico de Família lidar com queixas dos seus doentes relacionadas com a falta de tempo, de energia e motivação para cuidar da saúde como realmente gostariam. As elevadas exigências no trabalho, o ritmo acelerado do quotidiano, associados ao sedentarismo e a hábitos alimentares pouco saudáveis, tornaram-se, infelizmente, parte da rotina de muitas pessoas. O aumento da prevalência da obesidade traz consigo maior risco de desenvolver doenças crónicas, entre elas, o colesterol elevado, a diabetes e a hipertensão arterial. O relatório divulgado em 2020 pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge apontou para uma prevalência de hipertensão arterial de 43% nos portugueses entre os 18 e 79 anos (87% na população entre os 65 e os 79 anos), sendo que no grupo dos hipertensos, apenas 32,1% apresentavam a sua pressão arterial controlada. A Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) recomenda a vigilância da pressão arterial a cada 3 anos em pessoas com menos de 40 anos e anualmente em adultos com mais.

Como se diagnostica?

A pressão arterial (PA) é a força que o sangue exerce contra as paredes das artérias, essencial para que este fluído consiga levar oxigénio e nutrientes a todas as partes do organismo. Quando o coração se contrai gera-se a PA sistólica (o valor mais alto), e quando relaxa, a PA diastólica (o valor mais baixo).

 

A hipertensão arterial (HTA) existe quando a PA se mantém elevada de forma persistente. De acordo com a ESC, a PA
medida no consultório médico deve ser igual ou superior a 140/90 mmHg para que uma pessoa seja considerada hiper-
tensa. Contudo, uma medição isolada não basta para diagnosticar HTA, pelo que é recomendada a leitura da PA em
casa ou a monitorização ambulatória durante 24 horas. Tal permitirá a deteção de casos de ‘hipertensão de bata branca’
que se caracterizam por PA alta no consultório, mas normal no exterior, e de casos de ‘hipertensão mascarada’ que, inversamente, apresentam PA normal no consultório, mas elevada no exterior.

 

Quando a PA é medida em casa, considera-se um indivíduo hipertenso se a média dos valores for igual ou superior a
135/85 mmHg. Neste caso, a ESC aconselha a fazer a média de duas medições espaçadas de 1 a 2 minutos e em duas alturas do dia, num total de sete dias. O diagnóstico da HTA através da monitorização ambulatória ao longo de 24h é feita com aparelho de tensões portátil capaz de medir a PA diurna e noturna, o que permite avaliar a sua variação circadiana, sobe e desce consoante a hora do dia.

Fatores de aparecimento

Em cerca de 90% dos casos não existe causa única, sendo que a HTA surge devido à interação de múltiplos fatores genéticos (hereditários), ambientais, comportamentais e psicossociais. Nestas circunstâncias, estamos perante a HTA primária (ou essencial). Existem vários hábitos de vida que aumentam o risco de HTA, como o excesso de sal na alimentação, o sedentarismo, o sono de fraca qualidade ou duração, o excesso de peso e a obesidade, o consumo de álcool e o stress. Por outro lado, sabemos que doenças infecciosas (designadamente o HIV), e fatores ambientais como a poluição do ar e sonora (tráfico rodoviário, comboios ou aviões) se associam modestamente à HTA. Vários estudos
têm também demonstrado evidência crescente da associação entre o risco de desenvolver HTA e condições sociais
desfavorecidas. Em situações menos frequentes, a HTA pode ser causada por uma única condição (HTA secundária),
incluindo doenças renais, hormonais (como o excesso de produção de hormonas pela glândula suprarrenal), a apneia do sono ou o uso de medicamentos. Nestes casos, o tratamento da causa subjacente pode melhorar ou até resolver a HTA.

 

A pesquisa de causas secundárias deve ser efetuada se a HTA for diagnosticada em pessoas mais jovens ou com pressões arteriais difíceis de controlar.

Os sintomas

Na maioria dos casos, a HTA é uma doença silenciosa. Os sintomas surgem essencialmente nas emergências hipertensivas
e podem incluir dores de cabeça, tonturas, alterações visuais, Silenciosa mas perigosa dor no peito e falta de ar.

Como se trata?

O tratamento passa por duas grandes abordagens: mudança de hábitos e tratamento com medicação.

Relativamente ao estilo de vida, deve ter estes cuidados: dieta adequada, perda de peso, reduzir o consumo de álcool, evitar bebidas açucaradas, não fumar, higiene de sono e exercício físico.

Artigo in Revista Mariana agosto 2025