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Luto: quando precisamos de ajuda

publicado em 24 Mai. 2021

A ideia de morte acompanha-nos toda a vida: a noção de que nós mesmos não somos eternos e que, no decorrer da nossa vida, será necessário enfrentar a morte de pessoas que amamos. Seremos também expostos a outras perdas significativas e, em todos estes momentos, o processo de luto é a natural resposta emocional que nos ajuda a compreender, integrar e recuperar do momento da perda.

 

Podemos sentir tristeza, raiva, culpa, autocensura, ansiedade, solidão, fadiga, desamparo, choque, anseio pela pessoa perdida ou ainda torpor, que é como que uma ausência de sentimentos ou sensação de dormência. A dor da perda é muitas vezes física e é, por isso, comum sensação de vazio no estômago, aperto no peito, nó na garganta, hipersensibilidade ao barulho, sensação de nada parecer real (nós mesmos ou a realidade à nossa volta), falta de ar, fraqueza muscular, falta de energia ou boca seca. Por outro lado, é habitual pensamentos de descrença, como se não conseguíssemos acreditar que a pessoa morreu, confusão, desconcentração e desorganização. Por último, alguns comportamentos habitualmente manifestados podem ser distúrbios de sono e/ou de apetite, andar “com a cabeça no ar”, isolamento social, sonhos/pesadelos com a pessoa falecida, evitar lembranças dessa pessoa ou, pelo contrário, procurar e chamar pelo ente querido. Também se verificam suspiros, agitação motora, choro frequente, visitar sítios ou guardar e andar com objetos que eram ou lembrem da pessoa falecida.

 

A dor da perda, da morte de alguém que nos era importante, é de tal ordem gigante que parece ser impossível sobreviver ao turbilhão de emoções e sensações que essa dor nos provoca. Existem diferentes formas de entender o curso natural do luto, desde tarefas do luto, fases de luto ou estágios de reação à perda, por exemplo, mas por vezes este processo pode encontrar obstáculos que perturbam o seu percurso habitual e o luto torna-se complicado, mais severo ou prolongado que o esperado, podendo existir diferentes formas e manifestações deste luto patológico.

 

Nestas circunstâncias, a ajuda especializada é urgente e os estudos demonstram que a terapia psicológica, em especial a cognitivo-comportamental, é um recurso por excelência no acompanhamento desta questão. Neste sentido, em consulta trabalham-se aspetos como compreensão e adaptação à realidade da perda; identificação de pensamentos desordenados e emoções negativas; procura da autocompaixão; fortalecimento das relações com outras pessoas próximas; definição de objetivos de vida que criem entusiasmo e esperança; fomentar as memórias positivas da pessoa que partiu. Além de tudo isto, em consulta é oferecido um espaço em que o tempo e as necessidades da pessoa são a prioridade e onde não existem exigências, julgamentos ou críticas.

 

A ideia de vazio deixado pela pessoa que parte parece demasiado grande para ser suportada e, muitas vezes, a dor da saudade parece engolir quem fica. Em conjunto com o psicólogo, o enlutado pode voltar a permitir-se viver, sentir entusiasmo e esperança e recuperar a ideia de futuro, encontrando a melhor forma de integrar a saudade e a ausência de quem partiu na sua realidade.