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Medicina da Adolescência: Doenças neurológicas funcionais

publicado em 09 Jul. 2024

O que são as Doenças neurológicas funcionais?

Quando em Medicina o nome utilizado para atribuir diagnóstico a uma condição é tão vago como este aqui apresentado, significa que ainda muito se desconhece sobre este conjunto de patologias. Este conjunto de patologias está descrito na literatura médica,desde meados do século 20 e já foi apelidado de distúrbios psicogénicos, psicossomáticos, conversivos, dissociativos ou medicamente inexplicáveis.

 

Ao contrário de outras patologias neurológicas causadas por danos estruturais no sistema nervoso, as doenças ditas neurológicas funcionais resultam de um problema real no funcionamento do sistema nervoso, mas sem alterações da “arquitetura” do cérebro e restante sistema nervoso. Trata-se de um problema de “software” e não de “hardware”.

 

Nas clínicas com foco na neurologia pediátrica, cerca de 20% dos doentes apresentam esta doença, e cerca de 10% dos adolescentes que apresentam crises epiléticas intratáveis, são de facto doenças neurológicas funcionais que foram mal diagnosticadas como crises epilépticas.

Quais são os sintomas?

Os doentes na pediatria, essencialmente do sexo feminino e na adolescência, com doença neurológica funcional apresentam uma ampla gama de sintomas neurológicos funcionais: sintomas motores que afetam os membros (fraqueza, tiques, tremores, alterações da marcha), crises funcionais (incluindo episódios semelhantes a síncope), perda de função sensorial (perda de audição, visão ou tato), tonturas e dificuldades de equilíbrio, sintomas motores que afetam a voz (afonia, disfonia), trato digestivo (sensação de nó na garganta, dificuldade em engolir, ruminação) ou bexiga (retenção urinária, bexiga irritável) e alterações na função cognitiva ou na consciência.

 

As crises não epilépticas, assim designadas por não estarem associadas a alterações no exame Eletroencefalograma “EEG” são um sintoma paradigmático nestes doentes.

Quais são as características típicas das crises não epilépticas?

Há dois tipos principais de crises:

 

  1. Com movimentos – tipicamente o doente exibe movimentos que se assemelham a uma crise epilética generalizada.
  2. Sem movimentos – nestas crises os doentes caem no solo e ficam imóveis, deixando de responder durante vários minutos.

Quais as diferenças para as crises epiléticas?

• Longa duração das crises.

• A natureza dos movimentos anormais da cabeça e membros, se existirem.

• A presença de um período prolongado de não responsividade.

• A aparência dos seus olhos e boca durante a crise.

• Se teve ou não algum tipo de aviso antes da crise. Estes ‘avisos’ antes das crises dissociativas podem ter duração variável, variando entre estarem ausentes até várias horas. Há frequentemente um padrão de escalada dos sintomas físicos antes da crise, habitualmente com sintomas dissociativos.

• Doentes com crises dissociativas habitualmente têm maior dificuldade em descrever as suas crises do que os doentes com epilepsia.

Como é feito o diagnóstico?

Não existe um único teste ou biomarcador (sinal biológico de doença), para confirmar o diagnóstico de doença neurológica funcional.

 

O diagnóstico baseia-se em sintomas positivos, que são procurados pelo médico durante a história clínica e através do exame objetivo geral e neurológico. É normalmente desaconselhado tentar provar a ausência de doença por meio de múltiplos exames auxiliares, que geralmente se revelam negativos ou normais.

 

O diagnóstico deve ser dado de maneira positiva ao invés de “os exames vieram normais portanto não tens nada, está tudo bem”. Além disso, a existência de psicopatologia concomitante deve ser investigada.

Como é feito o tratamento?

A comunicação clara do diagnóstico e o esclarecimento do doente são os passos mais importantes do tratamento. O tratamento deve ser multidisciplinar, incluindo estratégias para treinar o cérebro a interpretar corretamente os sinais, evitando que os sintomas atípicos se tornem habituais, o que se revela a estratégia mais eficaz.

 

Os dois pilares são a psicoterapia e a fisioterapia. A colaboração com colegas de terapia ocupacional é também por vezes recomendada.