Quando falamos de metrorragias da pós-menopausa referimo-nos a qualquer hemorragia com ponto de partida uterino numa mulher na pós-menopausa (hemorragia que ocorre mais de 1 ano após a última menstruação – menopausa).
Várias situações podem causar metrorragias na pós-menopausa. A atrofia e os pólipos endometriais são as causas mais comuns da metrorragia da pós-menopausa. Não podemos no entanto esquecer que por trás de uma metrorragia na pós-menopausa pode estar um cancro do endométrio.
Cerca de 10% das mulheres com metrorragias da pós-menopausa têm como causa um cancro do endométrio, valor que pode chegar aos 20% em mulheres com fatores de risco para cancro do endométrio, como hipertensão, diabetes ou obesidade, por exemplo. É imperativo que todas as mulheres com metrorragias da pós-menopausa sejam estudadas, com o objetivo de excluir cancro do endométrio, uma doença com potencial letal, mas que, se precocemente diagnosticado, é tratado, tem um bom prognóstico. A hemorragia uterina nas mulheres na pós-menopausa é geralmente escassa e autolimitada e, numa grande parte dos casos, não necessita de qualquer tratamento. A exclusão de cancro é, portanto, o principal objetivo da investigação.
As mulheres com metrorragias da pós-menopausa não devem hesitar em procurar ajuda médica, não deixando arrastar as queixas. O seu médico irá colher-lhe uma história clinica detalhada. Quererá saber quando começou a hemorragia, quanto tempo depois da menopausa, duração da hemorragia, características do sangramento (muitas vezes não é uma hemorragia como uma menstruação, mas um corrimento rosado, tipo “água de lavar carne”). É importante também saber se faz alguma medicação, como por exemplo anticoagulantes e seus hábitos alimentares (suplementos dietéticos, nomeadamente contendo soja). O exame ginecológico é igualmente importante para determinar o local de sangramento e excluir sangramento com origem no aparelho urinário (por ex. carúncula uretral) ou digestivo (por ex. hemorroides). Confirmando-se que o ponto de partida do sangramento é a cavidade uterina torna-se necessário realizar uma avaliação endometrial.
Essa avaliação pode ser realizada com uma ecografia com sonda vaginal. Com este exame, não invasivo, vamos avaliar as características do endométrio, nomeadamente a sua espessura e estrutura (homogéneo/heterogéneo). O cancro do endométrio é muito raro se o endométrio se apresentar com estrutura homogénea e espessura ≤ 5 mm. Se a espessura endometrial for > 5 mm, a estrutura heterogénea ou o endométrio não for claramente visualizado deverá ser realizada biópsia. De notar que mesmo que a espessura endometrial seja ? 5mm, se as hemorragias forem persistentes devemos realizar estudo com biópsia, pois alguns tipos de cancro de endométrio não se apresentam com espessura endometrial aumentada. A biópsia idealmente deve ser realizada por histeroscopia. Este exame endoscópico avalia a cavidade uterina utilizando um sistema ótico chamado histeroscópio. A histeroscopia permite a visualização direta da cavidade uterina e a realização de biópsia dirigida (estamos a ver o que estamos a biopsar). Geralmente a histeroscopia é realizada sem anestesia ou com anestesia local, a sensação de desconforto é comum, mas tolerável (semelhante à dor menstrual).
Em conclusão, podemos afirmar que as metrorragias da pós-menopausa são situações relativamente frequentes, mas que na maioria dos casos não tem patologia grave como causa. No entanto, cerca de 10% das mulheres com metrorragias da pós-menopausa têm uma neoplasia maligna do endométrio. Por esse motivo é obrigatório estudar todas essas mulheres com o objetivo da sua exclusão.