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O papel da psicoterapia nas adições

publicado em 20 Mai. 2022

Inegavelmente, o consumo de substâncias psicoativas, lícitas e/ ou ilícitas, aliado a outros comportamentos aditivos têm um efeito devastador na vida de milhões de pessoas.

 

Na verdade, desde sempre se assistiu ao consumo de substâncias psicoativas, assim como de comportamentos aditivos potenciados pela busca do prazer, benefícios terapêuticos ou até mesmo por uma questão ritual.

 

Agastados pelo confronto com os desafios impostos pela Covid-19, com consequências diretas na alteração das rotinas do quotidiano (privação do contacto físico com familiares e/ou amigos; desemprego…), a saúde mental dos portugueses ficou seriamente afetada.

 

Consequentemente, os comportamentos aditivos surgem como meio para combater os sintomas que tendem a causar desconforto ou potenciar os comportamentos disruptivos.

 

A “Adição” é uma perturbação complexa, caraterizada pela compulsividade na obtenção e consumo das substâncias de abuso, perda de controlo nas quantidades de consumo e o aparecimento de estados emocionais negativos, que refletem a síndrome de abstinência quando a pessoa não tem acesso à substância. Contudo, ao falar em adição não nos referimos apenas ao consumo de substâncias (droga, álcool, medicamentos), mas também aos comportamentos disfuncionais (jogo online, descontrolo na utilização das redes sociais).

 

De acordo com Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (2020), tem-se verificado a um aumento significativo do consumo de canábis. Um estudo recente da FMUP (2019) refere que quase 600 consumidores são internados anualmente em Portugal com surtos psicóticos e que as hospitalizações aumentaram quase 30 vezes em 15 anos.

 

Quando estamos perante uma adição tendemos a perspetivar:

 

  • Alterações do comportamento: agitação, agressividade ou lentificação psicomotora;
  • Mudanças súbitas de personalidade, diminuição da capacidade de memorização, concentração e atenção;
  • Fragilidade emocional, fadiga, alterações do sono, insónia, irritabilidade e tristeza.

 

Riscos intrínsecos aos comportamentos aditivos/dependências:

 

  • Agravamento da condição física e mental;
  • Aumento da probabilidade em recorrer aos serviços de urgência, particularmente do foro psiquiátrico (aparecimento de novos surtos psicóticos de difícil tratamento);
  • Aumento do número de acidentes de trabalho, absentismo, acidentes de viação;
  • Amplificação de situações de violência, abuso e maus-tratos;
  • Aumento do risco de intoxicações graves e fatais, e risco acrescido de exposição acidental.

 

Os Psicólogos podem desempenhar um papel fundamental no apoio/recuperação de alguém com uma Perturbação Aditiva. O trabalho terapêutico deve sempre considerar a individualidade pois cada caso é único e diferente. Também a família desempenha um papel fulcral no processo de tratamento, surgindo não só como fonte de apoio, mas também ao nível da prevenção de recaída e/ou intervenção em crise.

 

Por último, importa ressalvar que existem alguns aspetos que devem ser desenvolvidos na generalidade das intervenções, nomeadamente:

 

  • Psicoeducação relativamente aos mecanismos de funcionamento da adição;
  • Aumento de competências socioemocionais;
  • Promoção de hábitos de vida saudável,
  • Motivação para a abstinência estável;
  • Capacitação para a prevenção da recaída.

 

O psicólogo tem um papel preponderante na promoção do desenvolvimento de competências de autorregulação, resiliência e adaptação à mudança no doente, potenciando os seus recursos internos e externos na procura de uma maior sensação de bem-estar e equilíbrio biopsicossocial.