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Perturbação de Ajustamento: o que é e como se trata?

publicado em 24 Jan. 2023

Inegavelmente, hoje temos uma clara perceção de que a pandemia, provocada pelo vírus SARS-CoV-2, precedida de uma crise socioeconómica e sem esquecer uma guerra com consequências devastadoras para todo o mundo, fizeram emergir bastantes sequelas para o ser humano, nomeadamente ao nível da sua saúde psicológica. Consequentemente, fez-nos repensar sobre a importância de cuidarmos mais e melhor da nossa saúde mental. Atualmente, estamos mais conscientes para o perigo de negligenciarmos as alterações que possam surgir ao nível do nosso campo emocional, comportamental e social.

 

O presente artigo pretende demonstrar que, apesar do nosso país apresentar uma elevada taxa de pessoas diagnosticadas com depressão e ansiedade, refugiando-se com frequência nas adições, e também no campo da demência, particularmente de Alzheimer, surgem outros problemas que merecem ser foco de atenção, como por exemplo a Perturbação de Ajustamento.

 

Antes de explicar do que se trata, como é que esta se manifesta e quais as estratégias de intervenção para a combater, é imperativo reforçar que o papel de um profissional na área da saúde mental é bastante amplo, ou seja, este não surge perante a sociedade apenas como um recurso para intervir sobre a psicopatologia. Este apresenta-se como um agente promotor de sensibilização e orientação perante circunstâncias que, de um modo mais ligeiro, podem levantar desconforto (e.g. dúvida sobre uma determinada tomada de decisão).

 

Na continuidade do que foi mencionado anteriormente, quando falamos de uma Perturbação de Ajustamento referimo-nos a uma reação um pouco mais grave do que a que ocorre em reações depressivas normais da vida, mas que não se apresenta de forma tão intensa como na Depressão Major. Comumente, surge um estado de angústia com humor deprimido, ansiedade, preocupação e um sentimento de incapacidade de ajustamento. Estes tendem a surgir após um evento de vida isolado (e.g. rutura afetiva) ou por múltiplos fatores de stresse (e.g. doença física grave, problemas conjugais, desemprego, entre outros).

 

Os sintomas têm início no primeiro mês da ocorrência do acontecimento de vida stressante. Usualmente, os sintomas (tristeza, sensação de vazio, angústia, cansaço, falta de energia, cefaleias, alterações do sono e apetite, ansiedade, irritabilidade, aumento do consumo de álcool e/ou outras drogas) não excedem 6 meses de duração. Em geral, aquilo que provoca stress e angústia são episódios habituais da vida, mas que resultam numa reação mais gravosa do que o esperado, mais intensa e persistindo por mais tempo.

 

No que diz respeito à intervenção, esta é projetada para auxiliar o doente a resolver os problemas e eventos de vida negativos, se possível, e para apoiar os processos naturais de ajustamento. Estes visam essencialmente a redução do processo de negação e evitamento dos eventos stressantes, encorajando a resolução de problemas e desencorajando respostas de evitamento mal adaptativas.

Para além do acompanhamento e intervenção psicoterapêutica, o recurso ao uso de medicação adjuvante (psicofármacos), durante um curto período, poderão ser fundamentais para o aumento da eficácia do processo psicoterapêutico e consequentemente aumento do bem-estar do doente.

Por fim, ressalvo algumas sugestões que podem contribuir para a melhoria do seu estado psicológico:

  • Aceite as suas emoções e sentimentos;
  • Evite isolar-se;
  • Respeite o seu próprio tempo;
  • Mantenha / promova as interações sociais;
  • Procure realizar tarefas que lhe despertem interesse;
  • Valorize o autocuidado;
  • Pratique exercício físico com regularidade, alimente-se e procure ter uma boa higiene de sono.

 

Por último, é importante reforçar que o/a psicólogo/a tem um papel preponderante na promoção do desenvolvimento de competências de autorregulação, resiliência e adaptação à mudança no doente, potenciando os seus recursos internos e externos na procura de uma maior sensação de bem-estar/equilíbrio biopsicossocial. Este/a pode ajuda-lo a desenvolver estratégias de regulação emocional e autocuidado que lhe permitam gerir melhor a ansiedade e o stress, bem como o equilíbrio entre a vida/necessidades pessoais e profissionais.