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Perturbações da leitura e da escrita e a importância da terapia da fala

publicado em 04 Dez. 2024

Uma das grandes preocupações por parte dos pais surge quando os seus filhos iniciam a aprendizagem da leitura e da escrita.

Neste artigo, vamos abordar as perturbação da leitura e da escrita e importância da intervenção em Terapia da Fala.

Perturbações da Leitura e da Escrita

As perturbações da leitura e escrita dificultam integralmente o processo de aprendizagem e comprometem o sucesso escolar, sendo comum a criança revelar sentimentos como tristeza, frustração, irritabilidade, baixa autoestima, vergonha, ansiedade, insegurança emocional e consequentemente desmotivação escolar, uma vez que as dificuldades se refletem em todas as áreas curriculares. Podem decorrer por múltiplas razões, tais como dificuldades/perturbações da fala e linguagem oral, perturbações da aprendizagem específicas (e.g.: perturbações com défice na Leitura – Dislexia, e na Expressão Escrita – Disortografia, podendo ou não coexistir), ou decorrentes de fatores cognitivos (quociente intelectual), neuropsicológicos ou socioambientais.

 

Importa referir que as dificuldades de leitura e escrita podem surgir também em adultos, decorrentes de patologias neurológicas (e.g.: Acidentes Vasculares Cerebrais – AVC, ou Traumatismos Cranioencefálicos), podendo a Terapia da Fala ser fundamental na minimização das dificuldades e permitir ao adulto tornar-se o mais funcional possível.

Sinais de alerta durante a infância

  • Atraso no desenvolvimento da linguagem (e.g.: nomes de pessoas, cores, objetos e de outras categorias do quotidiano, assim como evocar e nomeá-los). A criança pode utilizar, frequentemente, palavras como “isto”, “aquilo”;
  • Produção dos sons da fala infantilizada, que pode permanecer para além do tempo esperado (normalidade), atendendo que, por volta dos 5 anos de idade a criança deve produzir corretamente a maioria dos fonemas;
  • Dificuldade na identificação de rimas, bem como em memorizar canções infantis, lengalengas e recontar pequenas histórias;
  • Dificuldades em reproduzir segmentação de frases e palavras (“Vamos dividir esta frase/palavra aos bocadinhos, batendo uma palma para cada palavra/sílaba!”).

Sinais de alerta em escolaridade

  • Permanecem dificuldades em tarefas de consciência fonológica (consciência frásica – palavras; silábica – sílabas da palavra; e fonémica – sons da palavra);
  • Falhas na associação das letras aos seus sons (e.g.: o grafema -X representa quatro fonemas diferentes);
  • Dificuldades de discriminação auditiva (e.g.: ‘faca/vaca’, ‘queixo/queijo’…);
  • Omissão, adição, inversão e substituição de sílabas ou determinados sons/fonemas do ponto de vista fonológico (e.g.: p-t; f-v; z-j; ch-j; nh-lh; per-pre; ão-au…) e lexical (m-n; s-ss-c-ç; o-u…);
  • Falhas constantes na pontuação e/ou acentuação;
  • Velocidade da leitura reduzida e baixa precisão (silabada, com hesitações e muitas incorreções);
  • Dificuldades em interpretar problemas matemáticos (a criança pode revelar bom raciocínio matemático, mas falha na interpretação da informação escrita);
  • Produção de textos reduzidos, falta de clareza e dificuldade na exposição das ideias (oralmente, a criança revela um desempenho significativamente melhor);
  • Baixa motivação, recusa e tentativa constante em adiar as tarefas de leitura e escrita;
  • Historial familiar de dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita noutros membros da família.

Intervenção do Terapeuta da Fala

Importa sublinhar que um requisito fundamental para um bom desempenho na aprendizagem da leitura e da escrita, depende diretamente do desempenho do processamento fonológico, em relação às competências de consciência fonológica, memória fonológica e acesso lexical. É em torno destas competências que o Terapeuta da Fala assume um papel crucial mas não só, podendo a intervenção incidir também ao nível da linguagem oral se identificadas dificuldades que se reflitam nas de escrita em outras componentes da linguagem (semântica, morfossintaxe e pragmática).

 

Quanto mais precocemente forem identificadas dificuldades e/ou perturbações da leitura e da escrita, mais eficaz será a recuperação, e para atuar em prevenção das mesmas, os pais e professores deverão estar atentos aos sinais de alerta anteriormente descritos e solicitar uma avaliação em Terapia da Fala.

 

Sempre que necessário, o Terapeuta da Fala poderá efetuar o encaminhamento para outras especialidades (e.g.: Psicologia, Otorrinolaringologia, Pediatria…), mediante as especificidades da criança, intervindo multidisciplinarmente.

Referências
Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala (APTF)
Associação Portuguesa de Dislexia
American Psychiatric Association. (2014). Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais: DSM-V-TR. (5.ª ed, Texto Revisto). Edição Portuguesa, Lisboa: Climepsi Editores