Uma das grandes preocupações por parte dos pais surge quando os seus filhos iniciam a aprendizagem da leitura e da escrita.
Neste artigo, vamos abordar as perturbação da leitura e da escrita e importância da intervenção em Terapia da Fala.
Perturbações da Leitura e da Escrita
As perturbações da leitura e escrita dificultam integralmente o processo de aprendizagem e comprometem o sucesso escolar, sendo comum a criança revelar sentimentos como tristeza, frustração, irritabilidade, baixa autoestima, vergonha, ansiedade, insegurança emocional e consequentemente desmotivação escolar, uma vez que as dificuldades se refletem em todas as áreas curriculares. Podem decorrer por múltiplas razões, tais como dificuldades/perturbações da fala e linguagem oral, perturbações da aprendizagem específicas (e.g.: perturbações com défice na Leitura – Dislexia, e na Expressão Escrita – Disortografia, podendo ou não coexistir), ou decorrentes de fatores cognitivos (quociente intelectual), neuropsicológicos ou socioambientais.
Importa referir que as dificuldades de leitura e escrita podem surgir também em adultos, decorrentes de patologias neurológicas (e.g.: Acidentes Vasculares Cerebrais – AVC, ou Traumatismos Cranioencefálicos), podendo a Terapia da Fala ser fundamental na minimização das dificuldades e permitir ao adulto tornar-se o mais funcional possível.
Sinais de alerta durante a infância
- Atraso no desenvolvimento da linguagem (e.g.: nomes de pessoas, cores, objetos e de outras categorias do quotidiano, assim como evocar e nomeá-los). A criança pode utilizar, frequentemente, palavras como “isto”, “aquilo”;
- Produção dos sons da fala infantilizada, que pode permanecer para além do tempo esperado (normalidade), atendendo que, por volta dos 5 anos de idade a criança deve produzir corretamente a maioria dos fonemas;
- Dificuldade na identificação de rimas, bem como em memorizar canções infantis, lengalengas e recontar pequenas histórias;
- Dificuldades em reproduzir segmentação de frases e palavras (“Vamos dividir esta frase/palavra aos bocadinhos, batendo uma palma para cada palavra/sílaba!”).
Sinais de alerta em escolaridade
- Permanecem dificuldades em tarefas de consciência fonológica (consciência frásica – palavras; silábica – sílabas da palavra; e fonémica – sons da palavra);
- Falhas na associação das letras aos seus sons (e.g.: o grafema -X representa quatro fonemas diferentes);
- Dificuldades de discriminação auditiva (e.g.: ‘faca/vaca’, ‘queixo/queijo’…);
- Omissão, adição, inversão e substituição de sílabas ou determinados sons/fonemas do ponto de vista fonológico (e.g.: p-t; f-v; z-j; ch-j; nh-lh; per-pre; ão-au…) e lexical (m-n; s-ss-c-ç; o-u…);
- Falhas constantes na pontuação e/ou acentuação;
- Velocidade da leitura reduzida e baixa precisão (silabada, com hesitações e muitas incorreções);
- Dificuldades em interpretar problemas matemáticos (a criança pode revelar bom raciocínio matemático, mas falha na interpretação da informação escrita);
- Produção de textos reduzidos, falta de clareza e dificuldade na exposição das ideias (oralmente, a criança revela um desempenho significativamente melhor);
- Baixa motivação, recusa e tentativa constante em adiar as tarefas de leitura e escrita;
- Historial familiar de dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita noutros membros da família.
Intervenção do Terapeuta da Fala
Importa sublinhar que um requisito fundamental para um bom desempenho na aprendizagem da leitura e da escrita, depende diretamente do desempenho do processamento fonológico, em relação às competências de consciência fonológica, memória fonológica e acesso lexical. É em torno destas competências que o Terapeuta da Fala assume um papel crucial mas não só, podendo a intervenção incidir também ao nível da linguagem oral se identificadas dificuldades que se reflitam nas de escrita em outras componentes da linguagem (semântica, morfossintaxe e pragmática).
Quanto mais precocemente forem identificadas dificuldades e/ou perturbações da leitura e da escrita, mais eficaz será a recuperação, e para atuar em prevenção das mesmas, os pais e professores deverão estar atentos aos sinais de alerta anteriormente descritos e solicitar uma avaliação em Terapia da Fala.
Sempre que necessário, o Terapeuta da Fala poderá efetuar o encaminhamento para outras especialidades (e.g.: Psicologia, Otorrinolaringologia, Pediatria…), mediante as especificidades da criança, intervindo multidisciplinarmente.