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Rastreio do Aneurisma da aorta

publicado em 01 Abr. 2024

Quem e quando rastrear?

Um aneurisma da aorta abdominal (AAA), a maior artéria na cavidade abdominal, é definido como uma aorta dilatada com diâmetro acima de 3 cm. É a 10.ª causa de mortalidade nos homens com idade acima dos 50 anos. A maioria cresce lentamente e não tem sintomas, por isso a maioria é encontrada incidentalmente.

 

A maioria dos aneurismas não se rompe, mas quando isso acontece é uma das emergências mais dramáticas, com morte súbita por hemorragia, a menos que a cirurgia ou o reparo endovascular sejam realizados imediatamente. E apesar da melhoria dos cuidados prestados, cerca de 1/3 dos doentes não chega a receber cuidados hospitalares e 1/3 morre no hospital sem ser operado.

Quais são os maiores fatores de risco?

A idade é o maior fator de risco – a prevalência é baixa em indivíduos com < 50 anos, mas aumenta de 2 a 4% por década, a partir dos 64 anos. O aneurisma da aorta abdominal ocorre menos comumente em mulheres e os estudos de rastreio mostram que aparece em aproximadamente 3 a 5% dos homens com >60 anos. Há uma associação dose-dependente com o tabagismo, com um risco de desenvolver um aneurisma da aorta abdominal ao longo da vida de 10,5% em fumadores ativos, que aumenta consoante a carga tabágica. Também devemos ter em atenção a etnia (menos comum na ascendência africana), as doenças cardiovasculares (colesterol alto, hipertensão, doença aterosclerótica), doenças hereditárias do tecido conjuntivo e a história familiar.

Existem fatores que nos protejem?

O serviço de Medicina Geral e Familiar tem como um dos pilares os cuidados promotores e preventivos. Aconselhamos prática de exercício regular, alimentação pobre em colesterol e gorduras saturadas.

Qual a vantagem do seu médico de família pedir este rastreio?

A taxa de mortalidade por aneurisma da aorta abdominal diminuiu nos últimos 16 anos na grande maioria dos países desenvolvidos, com diferenças geográficas que dependem de programas de rastreio organizados e do controlo de fatores de risco, sobretudo o tabagismo. Em Portugal, não existem programas de rastreio de aneurisma da aorta abdominal implementados, mas vários estudos demonstraram que o rastreio populacional de homens com mais de 65 anos leva a uma redução da mortalidade em 44%. E houve um estudo realizado no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho que, desde 2016, destaca o prognóstico favorável quando há um tratamento programado de um aneurisma da aorta abdominal detectado em rastreio. 

Qual o exame e quem rastrear?

O exame físico pode revelar uma massa pulsátil à palpação do epigastro (região acima do umbigo). Porém, a sensibilidade da palpação varia dependendo do tamanho do aneurisma (sensibilidade 76% para aneurismas ≥5,0 cm) e do perímetro abdominal (sensibilidade de 91% em se a circunferência abdominal <100 cm). Logo, os achados do exame físico requerem verificação por imagem.

 

A facilidade de diagnóstico tem como base um exame acessível, indolor e não invasivo – Eco-Doppler/ Ecografia abdominal dirigida, com uma sensibilidade de 95 a 100%.

Devemos rastrear:

  • todos os homens idade 65 anos;
  • homens e mulheres com idade ≥ 50 anos, que tenham familiares próximos com história de AAA;
  • homens e mulheres com aneurismas em outras artérias;
  • mulheres entre os 65-75 anos fumadoras.

 

Uma revisão sistemática de 2016 avaliou o efeito do rastreio único em comparação com nenhum rastreio/cuidados habituais em homens com idades entre os 64 e os 83 anos. O rastreio único permitiu o dobro de operações eletivas e metade das operações de emergência de aneurisma da aorta abdominal até 15 anos depois.

 

É importante explicar os potenciais benefícios e danos do rastreio. A ecografia abdominal por si só não traz riscos, mas se detectar um pequeno aneurisma para o qual será recomendado acompanhamento regular, pode causar ansiedade. No entanto, alguns aneurisma da aorta abdominal crescerão e o doente poderá então optar por um reparo programado. Este rastreio está associado a uma redução de mortalidade superior a diversos rastreios bem estabelecidos como é o caso dos cancros da mama, próstata e intestino.