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Saúde Mental na Gravidez e Pós-Parto: o papel da Psiquiatria

publicado em 28 Abr. 2025

Nos últimos anos tem-se assistido a um interesse crescente pela saúde mental da mulher, especialmente na idade reprodutiva.

 

A saúde mental perinatal diz respeito à saúde mental da mulher no período que vai desde a conceção até ao final do primeiro ano após o parto.

 

O período perinatal é uma fase particularmente sensível, pelas diversas alterações hormonais, adaptações e mudanças psicossociais que traz consigo.

O que é a Psiquiatria Perinatal e a quem se destina?

A Psiquiatria Perinatal é uma subespecialidade recente que se dedica ao estudo, diagnóstico e tratamento das perturbações mentais que ocorrem na gravidez e no pós-parto.

 

A Unidade de Psiquiatria do Trofa Saúde Amadora e Loures, dispõe recentemente da Consulta de Psiquiatria Gravidez e Pós-parto, direcionada às doentes, e respetivas famílias, que pretendam aconselhamento e apoio especializado nesta fase importante das suas vidas.

Quais os motivos mais frequentes para recorrer a esta consulta?

Estima-se que cerca de 30% das mulheres vão desenvolver uma doença mental no período perinatal. As perturbações mentais perinatais mais conhecidas incluem a Depressão Perinatal, que pode surgir durante a gravidez ou no pós-parto, a Ansiedade Perinatal e a Psicose Pós-parto ou Puerperal.

 

Outras condições que podem ser diagnosticadas nesta fase são as Perturbações do Sono e a Perturbação Obsessivo Compulsiva. No período perinatal existe igualmente um risco aumentado de descompensação de uma doença psiquiátrica pré-existente (60-80%), em particular as mais graves, como a Perturbação Bipolar ou a Esquizofrenia.

Como decorre o diagnóstico e o seguimento clínico?

O diagnóstico passa pela colheita de uma história clínica completa, incluindo antecedentes psiquiátricos, médico cirúrgicos e familiares, hábitos, medicação, história pessoal e história da doença atual, decorre também da realização de um exame do estado mental.

 

Poderão ainda ser pedidos exames complementares de diagnóstico, como análises de sangue e urina, electrocardiograma, exames de imagem cerebral ou eletroencefalograma. O seguimento clínico deve ser regular e próximo ao longo de todo o período perinatal, envolvendo sempre que possível o parceiro ou familiares de apoio.

Que tipo de intervenções são habitualmente realizadas?

As intervenções terapêuticas em saúde mental perinatal dividem-se em não medicamentosas e medicamentosas. Dentro dos tratamentos não medicamentosos, estão incluídas as psicoterapias, administradas por um psicólogo ou um psiquiatra com formação na área, as recomendações sobre o estilo de vida: alimentação, higiene do sono, exercício físico, atividades de lazer e as terapias físicas, como a electroconvulsivoterapia, reservadas a situações particulares.

 

Os tratamentos medicamentosos, prescritos por médicos psiquiatras quando necessários, apresentam uma série de especificidades e desafios neste período, relacionados com a etapa específica da conceção, gravidez ou amamentação. Embora alguns estejam contraindicados, existem atualmente vários medicamentos que são seguros e eficazes no tratamento das doenças mentais perinatais.

 

As opções de tratamento e respetivos benefícios e riscos devem sempre ser discutidos com a doente e a família, por forma a ser tomada uma decisão informada, partilhada e individualizada.

De que forma esta consulta pode contribuir para o bem-estar e a saúde mental no período perinatal?

Está hoje bem estudada a relação direta entre a saúde mental materna, o vínculo mãe-bebé, a dinâmica familiar, o desenvolvimento psicomotor e a saúde mental da criança.

 

Infelizmente, muitas mulheres ainda se sentem culpadas ou envergonhadas por terem dificuldades emocionais durante um período tantas vezes idealizado pela sociedade como “o mais feliz das suas vidas”. O medo do estigma pode levar ao atraso na procura de ajuda especializada.

 

Quando não tratadas, as doenças mentais perinatais podem ter repercussões muito negativas na saúde e na vida da mãe, do bebé e da família. O seu reconhecimento e tratamento atempado são assim essenciais para o bem-estar de todo o sistema familiar.