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Sépsis: porque é tão grave

publicado em 30 Ago. 2022

A sépsis é um processo inflamatório complexo, desencadeado por uma infeção grave e uma das principais causas de morbilidade e mortalidade do mundo. Estima-se que, globalmente, sejam diagnosticados 437 casos por 100.000 habitantes por ano e 11 milhões de mortes (19,7% das mortes globais).

Qualquer infeção (pneumonia, infeção urinária, infeção da corrente sanguínea, etc.) ou microrganismo podem causar sépsis, no entanto, as bactérias são o agente mais frequente. Pessoas nos extremos etários (crianças com menos de 1 ano ou adultos com mais de 65 anos), com doenças crónicas (como diabetes, doenças pulmonares e/ou renais e cancros) e com o sistema imunológico enfraquecido são mais suscetíveis a esta manifestação grave de infeção.

Febre (temperatura acima dos 38ºC), arrepios e/ou frio, respiração muito rápida/falta de ar, ritmo cardíaco acelerado, tensão arterial baixa, confusão ou desorientação, pele sudorética e diminuição da quantidade de urina são alguns dos sintomas que podem estar presentes.

 

Consequentemente, a determinada infeção ocorre uma resposta exagerada do corpo com lesão dos seus próprios tecidos. Esta “luta contra a infeção” vai condicionar um funcionamento anormal (disfunção) dos órgãos. Sendo um processo dinâmico, a sépsis pode progredir para estádios mais graves, nomeadamente choque séptico, com diminuição abrupta da tensão arterial sem resposta aos tratamentos, e causar falência orgânica e morte.

 

A sépsis é uma emergência médica e a sua suspeita implica orientação hospitalar urgente. O diagnóstico e o tratamento precoces e adequados são cruciais para o prognóstico. A seleção dos exames (sangue, urina, imagiológicos, etc.) deve ser orientada pelas suspeitas levantadas pela história clínica e exame físico. Os exames microbiológicos são pontos-chave, pois permitem identificar o agente infecioso e determinar os antibióticos a que é sensível, favorecendo a sua utilização racional.

 

O início de antibiótico na primeira hora de avaliação clínica, geralmente de largo espetro, aumenta a probabilidade de sobrevivência dos doentes. Após o conhecimento dos resultados, nomeadamente microbiológicos, ajusta-se a antibioterapia. Algumas situações (por exemplo, foco abdominal) carecem de drenagem cirúrgica para controlo da infeção.

 

Além dos antimicrobianos, outras terapêuticas são fundamentais para o suporte dos órgãos disfuncionais: fluidos intravenosos (soros), oxigénio, vasopressores (medicação para aumentar a pressão sanguínea), corticoides, entre outros, que, pela gravidade e complexidade patológica, implicam internamento em unidades diferenciadas de cuidados intermédios ou intensivos.

 

Apesar de esta condição poder deixar sequelas para o resto da vida (dependendo do atingimento de órgão, pode, por exemplo, condicionar insuficiência renal crónica), e do aumento da sua incidência nos últimos anos, com a padronização de práticas médicas e uma maior sensibilização, assistiu-se a uma redução da mortalidade em 53% nas últimas duas décadas.