Skip to main content

Surdez súbita. Urgência otorrinolaringológica?

publicado em 25 Jul. 2019

Por definição, surdez súbita é uma perda auditiva repentina, geralmente unilateral, mas podendo afetar ambos os ouvidos. Pode ser acompanhada, em 80% dos casos, por zumbidos (acufenos) e em 40% por vertigem. A maioria dos doentes tem entre 40 e 60 anos de idade, sem prevalência sexual.

 

Da literatura conclui-se que na recuperação da surdez, como fatores prognósticos, se observa o seguinte:

 

1- Boa recuperação auditiva, se o diagnóstico e tratamento foi estabelecido nos primeiros 14 dias;

2- Melhor recuperação nas perdas auditivas nas frequências graves do que nas agudas;

3- Pior recuperação quanto maiores os limiares de perda inicial nas frequências de 500,1000 e 2000 Hz;

4- Piores recuperações auditivas quanto maior a Velocidade de Sedimentação sanguínea;

5- Piores recuperações auditivas quanto mais severas as manifestações de vertigem.

 

Embora em cerca de 10% dos casos, a causa seja um tumor benigno do nervo auditivo (Neurinoma ou Schwanoma do Acústico), obrigando esta suspeita à realização de exames que o excluam, podem estar implicadas no aparecimento de um episódio de surdez súbita, causas genéticas, auto-imunes, vasculares, infeciosas, tóxicas ou traumáticas. Há, pois, várias causas implicadas (multi-factorial) pelo que muitos doentes acabam sem um diagnóstico definitivo. Infelizmente, por essa razão, muitos doentes ficam com sequelas auditivas, sendo, contudo, rara a perda auditiva total.

 

A origem vascular por diminuição da irrigação micro-vascular e anóxia da cóclea e a infecção vírica (muitos episódios acontecem de Inverno e por vezes os doentes referem constipação algum tempo antes do episódio) recebem o maior consenso.

 

A hipótese diagnóstica de Surdez Súbita (tecnicamente o diagnóstico impõe-se pela perda de 30 dB ou mais em três ou mais frequências testadas no audiograma tonal em um dos ouvidos), deve, pelo que atrás se refere em relação ao prognóstico da recuperação auditiva, motivar o recurso a consulta de Otorrinolaringologia urgente, se possível no próprio dia, no sentido da eventual identificação da causa e instituição precoce do seu tratamento.

 

Não há unanimidade quanto ao tratamento, sendo incontestável a medicação com corticóides sistémicos ou por injeção trans-timpânica.
De acordo com a maior ou menor evidência das hipóteses causais, poderá ser legítimo recorrer a anti-víricos, trombolíticos e vaso-ativos e vasodilatadores, no sentido de minorar o sofrimento da cóclea e com isso melhorar as condições metabólicas e capacidade de regeneração deste órgão.

 

A avaliação da evolução e eventual recuperação da surdez faz-se repetindo periodicamente a audiometria tonal.

 

Todavia, quando a intervenção terapêutica não surtir o efeito desejado, pode ainda, embora sem evidência científica comprovada, ser tentada a oxigenoterapia em câmara hiperbárica, da qual têm beneficiado alguns doentes.

 

Concluindo, perante a hipótese de um quadro de surdez súbita deve, com urgência, consultar-se um médico de Otorrinolaringologia que pedirá os exames necessários ao seu diagnóstico e promoverá de imediato o tratamento adequado.