Para além da genética, o envelhecimento é um importante fator de risco de patologia ocular. A utilização de computadores, tablets e telemóveis também não é despiciente. Mas é igualmente na tecnologia que reside o progresso e a esperança para milhões de pessoas.
Olho vermelho: o que é e quais as causas?
As queixas de olho vermelho são das mais frequentes em Oftalmologia. Incluem desde a alergia ocular à conjuntivite infeciosa ou química, olho seco, blefarite, corpos estranhos/irritantes ou chalázios (“terçolhos”). Mas o facto de serem afeções comuns não significa que possam ser consideradas «menores». Se tratadas de forma errada, ou não tratadas, podem até conduzir à cegueira.
O conhecimento das causas é fundamental. Um olho vermelho pode ser provocado por uma lesão por herpes, que envolve a córnea, mas é indistinguível de uma conjuntivite dita “banal”. Por outro lado, um corpo estranho alojado na córnea ou noutra parte do olho, terá de ser eventualmente removido, podendo ser uma fonte de infeção. Por mais anti-inflamatórios e antibióticos que se utilizem, na ausência de tratamento cirúrgico, poderá evoluir para uma lesão mais grave.
Em ambiente hospitalar, no Serviço de Urgência, é sempre pedido para observar o doente com olho vermelho. Essencialmente, para dizermos o que não têm: lesões de herpes, corpos estranhos na superfície ou intraoculares, principalmente em pessoas com profissões de risco ou que tenham estado a fazer bricolage.
Inevitavelmente, as pessoas com história de herpes ou que, naquele momento, apresentam um herpes labial, têm de ser observadas por um oftalmologista. Particularmente, temos de dar muita atenção aos chamados “terçolhos” nas pessoas de mais idade, com uma evolução de dois a seis meses, porque podem ser sintomas de lesões neoplásicas.
Por exemplo, um cancro na pálpebra, que parece um chalázio que nunca passa. Quanto às pessoas com doenças autoimunes, que apresentam dor e fotofobia, nunca vão melhorar com antibióticos porque o problema não é um vírus, mas a própria doença imunológica descompensada.
Nos restantes casos, o médico de família pode sempre medicar com antibióticos, com a salvaguarda de que, se a pessoa não melhorar, ou piorar, deve ser vista por um oftalmologista. O especialista chama a atenção para a necessidade de prudência na utilização de pomadas com cortisona. Quatro aplicações diárias, durante dois a três dias numa pessoa com herpes palpebral, pode complicar-se com uma lesão na córnea que vai deixar cicatriz e prejudicar a visão para sempre.
Lágrimas Artificiais
No contexto da Farmácia, ao contrário da utilização de pomadas com cortisona, com as lágrimas de conforto, o farmacêutico nunca colocará o doente em risco. Em muitos dos problemas mais simples de olho vermelho, como a alergia, só o simples facto da lágrima artificial, sem conservantes, lavar os alergéneos da superfície do olho, proporciona conforto ao doente.
Ainda há muitas pessoas que acreditam que as lágrimas artificiais podem causar dependência mas essa ideia, não passa de um mito que é importante desfazer, defende o oftalmologista, que recomenda a sua utilização sobretudo a partir dos 40 anos, nas mulheres após a menopausa, ou em pessoas de qualquer idade que utilizem lentes de contacto ou usem muito os computadores.
O ritmo de pestanejo normal é de seis em seis segundos, ou seja, 10 vezes por minuto mas, quando estamos ao computador pode reduzir significativamente para 20 em 20 segundos, isto é, três vezes por minuto.
Inevitavelmente, as pessoas também sentem algum cansaço devido à secura ocular, mas os sintomas são vários. Podem incluir irritação ocular com olho vermelho, sensação de picadas, ardência e prurido, intolerância a lentes de contacto, visão turva principalmente durante a leitura, lacrimejo secundário à irritação causada pela secura ocular e secreções palpebrais, entre outros.
Usar lágrimas artificiais deve ser tão natural como lavar os dentes, hidratar o rosto ou pôr protetor solar. Fazem bem a toda a gente!
Hemorragia subconjuntival: atenção à pressão arterial
A hemorragia subconjuntival é uma situação assustadora e não há motivo para tal. O derrame ocular ocorre quando um dos vasos sanguíneos da conjuntiva rompe, provocando o que vulgarmente se chama de «sangue nos olhos.
A conjuntiva é uma camada fina que reveste as pálpebras internamente e a esclera, onde se encontram os estreitos vasos conjuntivais por onde flui o sangue. A esclera possui inúmeros vasos sanguíneos na sua superfície que, apesar de invisíveis a olho nu, são numerosos e muito frágeis.
Neste caso, o sangue no globo ocular ocorre no seu exterior não afetando, por isso, o interior e não interferindo, habitualmente, com a visão.
Na hemorragia subconjuntival, o derrame de sangue ocorre, usualmente, devido à rutura espontânea ou, então, devido a pequenos traumatismos dos vasos conjuntivais, por fragilidade ou por pressão aumentada dentro deles.
A mancha de sangue no olho, apesar de ter um aspeto que pode ser bastante desagradável, não provoca habitualmente alterações na visão nem causa dor. O único desconforto causado pode ser uma sensação de corpo estranho ou ardência nos olhos.
Por si só, são situações autolimitadas, inofensivas e evoluem de forma favorável sem riscos nem complicações. A pressão arterial descontrolada surge em primeiro lugar. Se o farmacêutico verificar que os valores são normais, caso contrário, o doente deve ser encaminhado para o Serviço de Urgência.
A segunda causa são pequenos traumatismos, até mesmo coçar o olho, ou provocados por trabalhos de construção civil e bricolage. Em terceiro lugar, surgem os medicamentos anticoagu- lantes ou anti-agregantes plaquetários.
Quando não existem alterações da visão, a pressão arterial está controlada e a pessoa não esteve a realizar atividades perigosas, ou seja, só nota que tem um olho vermelho quando se vê ao espelho, basta usar umas lágrimas de conforto. Demora entre duas a três semanas a passar e, apesar de ser um dos motivos frequentes de ida ao Serviço de Urgência, é uma situação benigna.
Normalmente é assim: o que tem mau aspeto e dói, geralmente não é grave; o que tem bom aspeto e não dói, é de natureza intraocular e, regra geral, mais grave. Especialmente quando atinge a visão de forma súbita. Um deslocamento da retina ou uma hemorragia intraocular num doente diabético, por exemplo, nem se vê de fora, nem dói e o doente fica à espera quando deveria recorrer de imediato ao hospital.
Além da questão da pressão arterial, o especialista refere que o farmacêutico comunitário pode ter uma atuação muito positiva no aconselhamento dos doentes com diabetes. Nomeadamente no que diz respeito à necessidade de realizar, todos os anos, um rastreio oftalmológico.
O primeiro sintoma de uma alteração grave das glicemias pode ser a perda de visão súbita bilateral. Esta questão está relacionada com o equilíbrio osmótico. O cristalino sofre uma alteração no seu poder refrativo e as pessoas ficam subitamente com duas ou três dioptrias de miopia ou hipermetropia.
Muitos doentes ficam assustados porque se tornaram diabéticos e têm avós ou outros familiares que cegaram, mas não podemos julgar o passado à luz da Medicina de hoje. Na atualidade, a qualidade dos fármacos e o nível da Medicina permitem que a maior parte dos doentes, desde que tenham uma boa adesão à terapêutica, sigam os rastreios médicos e os conselhos dos profissionais de saúde, vivam toda a sua vida sem terem complicações da diabetes.
Glaucoma continua a ser detetado muito tarde
Tal como a diabetes, a miopia ou a degenerescência macular da idade, o glaucoma também é uma doença com um fator de risco genético. Mas, na extensa maioria dos casos, o problema é ser descoberto muito tarde, quando os danos provocados já são irreparáveis.
A partir dos 40 anos, são aconselhadas consultas regulares ao oftalmologista. Se conseguirmos diagnosticar o glaucoma antes de provocar danos, os medicamentos que possuímos (muitos deles em unidoses, ou seja, sem conservantes e com poucos efeitos secundários), conseguem evitar a progressão da doença, reduzindo a pressão intra-ocular.
A cirurgia está reservada às pessoas que não respondem aos fármacos ou que não aderem à terapêutica. Mas são uma minoria porque, como referi, a utilização de fármacos sem conservantes, em unidose, reduz bastante as reações adversas. Assim, o tratamento de primeira tinha é feito com fármacos e laser. A cirurgia só surge em segunda linha.
Operação às cataratas é das mais seguras que existem
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a catarata é responsável pela maioria dos casos de cegueira no mundo.
Com a idade e o envelhecimento do cristalino, o aparecimento de cataratas é inevitável, ad cataratas podem ser evitadas ou prevenidas, toda a gente vai ter cataratas, se tiver a sorte de viver o suficiente.
Por outro lado, oo mito de que se deve deixar “amadurecer” a catarata era válido apenas há 40 anos, quando se não se operava por ultrassons. Hoje, toda a gente deve retirar as cataratas quando se tornam sintomáticas, ou seja, quando perturbam a sua qualidade de vida/ visão. Aliás, uma catarata madura implica riscos superiores, tornando a cirurgia tecnicamente mais exigente, com taxas de complicações mais altas.
Apesar de não ser totalmente isenta de riscos, a cirurgia da catarata é um dos procedimentos cirúrgicos mais seguros e que mais evoluíram nos últimos anos. Os dados revelam que «apenas um em cada 10 000 doentes tem hemorragia interna e um em cada 4 000 doentes tem uma infeção. Não há nenhuma outra cirurgia com esta estatística.
Na maioria dos casos, faz-se em 10 ou 15 minutos, com anestesia loca. Para conseguir excelentes resultados e diminuir os riscos associados, Ré recomendado operar na altura certa (não é necessário operar uma pessoa com cataratas ainda as- sintomáticas e que mantenha uma boa qualidade visual) e escolher uma equipa experiente, com recurso a tecnologia de última geração.
A cirurgia de catarata pode e deve ser feita em segurança e conforto para o doente. aliada à precisão, rapidez e controlo dos tratamentos guiados por computador. Proporciona uma qualidade de vida imensa ao doente e não recidiva.
Entrevista in Revista Farmácia Distribuição abril 2025